30.4.15

discussão política

Faço a previsão de poucos assaltos
o soco espesso no espaço
na hora de escutar eu penso
depois desse jab
um passo para trás e a mão de defesa
assim o som não vem oco
assim volto logo pra casa
Não uso argumentos porque sou de direita.
Não uso luvas porque sou de esquerda.


Ellen Maria

29.4.15

Backup natural

Deletou as fotos
Bloqueou o perfil
Eliminou redes sociais
Excluiu os emails
Formatou o pen drive
Só faltou limpar a memória
mas essa não tem atalho
na área de trabalho.

Ellen Maria

La vuelta

Me dijiste tantas veces
que era mi casa
que el baño era mío
así como los platos sucios
y el té de tilo
me dijiste que podría leer todos los libros
que quisiera
ocupar tanto espacio como pudiera
hacer de la cama mi refugio
y sin fuga
poco tiempo después
fui expulsa
las pesadillas quedaron
las botas quedaron
los platos limpios
los apuntes
no cupieron en la maleta
no tuve tiempo de agarrar
también los últimos sueños
pero creo que nada de lo que llevé            te harás falta
quizás ni te darás cuenta
escondí una que otra poesía
entre mis medias
Hoy hace frío sin tu cobija
pero cuando desembarque de este avión
sé que estaré de vuelta a mi país tropical.

Ellen Maria

27.4.15

La verbena

"Cuando el bocado de los dioses se arrebola de triste
duele servir el café, persignarse antes del vino,
alzar la vista y contemplar, en un cielo escabroso,
la cena más enferma de los condenados.
De las batallas perdidas los corazones, la fe que mordisquean
las ex esposas y los hijos del viento, los fuegos artificiales,
las comas que trastabillan el futuro.
Cuando el vértigo de la resignación
se acurruca en las venas
se amanece entre lobregueces danzantes
que pronuncian en sus pasos
los motivos para resistirse a creer."

Antonio Constantino

saber esperar alguém

"Não há nada mais sublime sedução do que saber esperar alguém.
Compor o corpo, os objectos em sua função, sejam eles
A boca, os olhos, ou os lábios. Treinar-se a respirar
Florescentemente. Sorrir pelo ângulo da malícia.
Aspergir de solução libidinal os corredores e a porta.
Velar as janelas com um suspiro próprio. Conceder
Às cortinas o dom de sombrear. Pegar então num
Objecto contundente e amaciá-lo com a cor. Rasgar
Num livro uma página estrategicamente aberta.
Entregar-se a espaços vacilantes. Ficar na dureza
Firme. Conter. Arrancar ao meu sexo de ler a palavra
Que te quer. Soprá-la para dentro de ti -----------------
-------------------------- até que a dor alegre recomece."

Maria Gabriela Llansol

24.4.15

what's up

O relógio é digital e luminoso
na tela do smarthfone
mas o tic tac
não vem do voo
das borboletas no estômago
eu sinto fome
e o tempo para
ouvir o bater das asas
você atende
diz que está chegando
depois chega
depois
sacia
e o tempo para
começar outra vez
...
e tudo perde a hora
chamadas perdidas
Hoje só estamos para nós.

Ellen Maria

20.4.15

O fio da história

A faca que corta
o instante da fome
é a mesma que separa
as sobras
da carne crua
da saciedade do presente.

já foi lavada
afiada
e repousa
seca
no gaveteiro.

Não anseia
pelo próximo uso.
Espera
a chegada da estação
das frutas
sem casca dura
que derretem na mão.

(quando eu penso que posso me machucar
é que estou apaixonada de novo).

Ellen Maria

19.4.15

Brisa

"Vamos viver no Nordeste, Anarina.
Deixarei aqui meus amigos, meus livros, minhas riquezas, minha vergonha.
Deixarás aqui tua filha, tua avó, teu marido, teu amante.

Aqui faz muito calor.
No Nordeste faz calor também.
Mas lá tem brisa:
Vamos viver de brisa, Anarina."

Manuel Bandeira

Fogo Encantado

Não mando recado
Não solto fumaça
Não uso o dedo
Não coço a garganta
Não meço caracteres
bafo quente
minha palavra
é dita de olhos fechados
nariz tapado
pulmão afogado
boca
que boca?
pena
que pena?
nada de word
ou megafone

Minha palavra
é descoberta
através da roda
fincada
no pé descalço
sem atalho
balbucio
ou papel passado
firmado
de joelhos caídos
no terreiro
dos afetos

Meu nome
entre a faca
o sangue
e os dentes
fica a critério
da oferenda
é só
o motor

A palavra
condensa
em marcas
onde já passou
a tempestade.

Ellen Maria

18.4.15

No cansarse

"Hay días, que aunque la tarea canse: uno debe mirar arriba: a las estrellas, esas luces que nos hacen sentir enormemente pequeños. Mirarlas nos da perspectiva, y nos recuerda que cada paso, cada instante son más significativos si comprendemos que en medio de la grandeza tenemos lugar y espacio, ese en donde estamos, y cada vez que miramos al otro somos más capaces de entender que todo es y funciona, cansarse no es opción."

Jocelyn Pantoja

17.4.15

El inevitable cansacio

"busco pájaro en cada cosa que muere
pienso ahora que los pájaros mueren volando
una implosión silenciosa de sus características convierte el horizonte."
María Mascheroni

"Há sempre mais promessas
do que pássaros no ar"
Juliana Frank


Hay algo de suicida en ser pájaro
no me gusta comer sola
cantar menos
y proyecto volar
pero solo voy hasta la esquina
hay un poco de melancolia
en ser pájaro
que duerme de pie
nunca abrazado
aunque odie esta palabra
hay un poco de erección en ser pájaro
siempre parado
- nunca vi el pito de un pájaro
no voy a morir
sus plumas negras
de gozo
de muerte
no me gusta platicar después
y hay una posibilidad
de ser eletrocutado
no huelo nada 
más allá de mis penas
quemadas
expulso toda la mierda
de una vez
no me sobra nada
vivo hambrienta
- todo es comida de pájaro
cualquier cosa alimenta
mis ojos
pequeños
de horizonte
hasta mis huesos son huecos
hay algo de humano
de alas rotas
en ser pájaro
hay algo suelto
que no entiendo
maldito miedo de la libertad
hay algo de peligroso en ser pájaro
hombres cobardes,
es verano.


Ellen Maria

Gotan

"Esa mujer se parecía a la palabra nunca,
desde la nuca le subía un encanto particular,
una especie de olvido donde guardar los ojos,
esa mujer se me instalaba en el costado izquierdo.


Atención atención yo gritaba atención
pero ella invadía como el amor, como la noche,
las últimas señales que hice para el otoño
se acostaron tranquilas bajo el oleaje de sus manos.


Dentro de mí estallaron ruidos secos,
caían a pedazos la furia, la tristeza,
la señora llovía dulcemente
sobre mis huesos parados en la soledad.


Cuando se fue yo tiritaba como un condenado,
con un cuchillo brusco me maté
voy a pasar toda la muerte tendido con su nombre,
él moverá mi boca por la última vez."


Juan Gelman

16.4.15

Veneno remédio

Meus amores não sobem a serra
rompem cadeiras
não tomam a pílula do dia seguinte
sorvem chá de sumiço
abandonam o caminho de volta
e obliteram o voo da conexão.
Só lembram dez anos depois
mas aí já é tarde.
Billie Holiday já os mandou
para as cucuias

Ellen Maria

The beginning of the time

Eis
que de repente
ex
Ficou difícil es
cre ver
em es
pañol,
crê ?
ser
também.

(mas a ma nhã com eço o in gl ês
com eco no etcétera).


Ellen Maria

Lumen Insan

Quando faz falta ver
e a boca beijar
é no segredo
do pedido
transmitido mentalmente
que a espera pousa

vai chegar

e eis uma resposta:
Foi engano.

Frustração é um substantivo próprio.


Ellen Maria

Resumen / Resumo

"Mis años sin ti se resumen:
comer macaronis and cheese
carne congelada
dunkin' donuts cuando cruzo a San Ysidro
lavar ropa sólo los domingos
ir a la librería
espiar a la vecina.
Mis días sin ti:
sucesión de imágenes nuestras por madrugada
la boda que nunca llegó
tu padre bebiendo vino
mi cuerpo sobre el tuyo
tus cabellos en mi rostro.
Mis horas:
lecturas interminables
chicas que aparecen y se van
jamás volver a pisar una sala de cine
ver el deterioro de mi cuerpo.
Y así
hasta encontrarte."

***

Meus anos sem você se resumem a:
comer miojo com queijo
carne congelada
dunkin' donuts quando cruzo San Ysidro
lavar roupa só aos domingos
ir à livraria
espiar à vizinha.
Meus dias sem você:
sucessão de imagens nossas pela madrugada
o casamento que não chegou nunca
seu pai bebendo vinho
meu corpo sobre o seu
seus cabelos na minha cara.
Minhas horas:
leituras intermináveis
garotas que vêm e vão
jamais pisar numa sala de cinema
ver a deterioração de meu corpo.
E assim
até te encontrar.


Jesús García Mora
Tradução: Ellen Maria

14.4.15

Vale a pena ver de novo

Você entra todos os dias em um ônibus lotado e espera para a porta de trás abrir para poder dar três passos em direção à saída. Consegue finalmente fincar os pés e afundar seus pensamentos em um banho terapêutico de lama em Araxá. Você aguarda pacientemente o ponto onde vai descer para ajeitar a gravata e caminhar duas quadras até o trabalho que não aceita que a felicidade esteja em outro lugar. Antes, observa as pessoas vidradas dentro de uma caixa móvel, elas estão presas em vários mundos de certa forma. O celular as transporta a outro lado enquanto o ônibus move seus celulares a um destino onde também não estarão. Seus dedos são mais hábeis que os olhos e não se importam se falta ar para um velho ou lugar para um cego com metade das janelas fechadas e todos os assentos ocupados por fones ambulantes. Você resolve descer e tomar o próximo. Não há nada de novo ali também. Mas nem é isso que você espera.

***

Você chega do trabalho
liga a televisão no seu canal favorito
se perde entre imagens do seriado
informações, novos personagens
uma boa trama

Você é o protagonista
luta contra o vilão, vários deles
conquista e beija a mocinha
até se excita
sem demonstrar

Depois da cena que a câmera não mostra
você volta para casa
exausto, frustado e carente
e liga a televisão
no seu canal favorito.


Ellen Maria

13.4.15

Inferência

Declarações provam palavras
Provas aclaram ações
dessa forma, deduzo
que dúvidas se esvaem
nas próprias proporções.

Ellen Maria

6 poemas de Alkaíd Marino

"Y si el fin ya te hubiera alcanzado
y no tuvieras la certeza de los días del ayer
y la sopa
tan deseada
no supiera más
a infancia?

qué habría en tu bolsillo
aparte de tu mano fría
y callosa
cuando pagues al pesero
dos asientos
el de tus huesos
y el de tu orgullo?"


***

"Puedes decir
que todo lo tienes
salud
dinero
y amor
pero todo esto sólo puedes presumirlo en una reunión de harpías
en navidad
o en un espejo

lo ves
sólo te queda tu silencio
tus triunfos mudos
sirviendo de pilares
para las telarañas
de aquella hombría
que olvidaste
en algún cumpleaños sin velas."


***

"En esta ciudad
todo se agusana

miente    besa   faja    coge
monta el viento y vete
no dejes que los gusanos te devoren
no hagas nido ni aúlles echado
a la luna
no redundes
tu estar pensando         y tu abrigo
de siempre y de nunca
que salga
a buscarte."


***

"Tú sabes muy bien de la relación amorosa
entre el hombre y el baño
sabes de mierda
como de soledad

sabes de esas lecturas hondas
y biodegradables
que no terminan de irse
aun
con ácido

sabes dónde pone sus huevos la mosca
dónde las cucarachas
dónde la vida

erudito
de etiquetas de shampoo
te purga
la idea
de que el mundo
es desechable."


***

"El tiempo ha pasado muy rápido
y es dificil saber dónde te encuentras

los días se yerguen uno a uno delante de ti
y la memoria es puerta trasera

todo
en tu existencia gime
en contra del reloj

ojalá no despiertes un día de estos
frente a tus ojos
suspendido
sobre el linóleo de una oficina."

***

"Siempre quisiste un buen empleo
dinero facil

eres cómplice de tu pereza

pero la vida te ha dado
un lugar
frente a una computadora y
te ha dado el plástico
suficiente
para hacer de ti
una deuda

tal vez no es esto
lo que hubieras querido
nunca
sabes lo que quieres        y eso
te mata

no sabes
recibir
y después
el silencio
burlón
de nada
en tu rostro."

Alkaíd Marino

12.4.15

O encontro / El encuentro

Vinte e uma horas de leitura
de um prefácio
que faz desconfiar que
este será o melhor livro 
de poesia
da minha biblioteca.

**

Veintiuna horas de lectura
de un prefacio
que hace desconfiar que
éste será el mejor libro
de poesía
de mi biblioteca.


Ellen Maria

10.4.15

NFL

"Jamás aprendí a defender _ siempre en offside
siempre queriendo adelantar líneas
con esperanza de saciar esta ansiedad que aprieta mis tachones.
Así como en el amor luché por cada balón suelto
por cada despedida
arriesgando el cuerpo
mi sexo que se raspa sobre nieve.
Volé más de tres veces y nunca te alcancé
siempre me gustó ser el último
el que te espera a pesar de que el juego ha terminado."

**

Nunca aprendi a defender _ sempre em offside
sempre querendo adiantar linhas
com a esperança de saciar essa ansiedade que comprime minhas rasuras.
Assim como no amor lutei por cada bola livre
por cada despedida
arriscando o corpo
meu sexo que se raspa sobre a neve.
Voei mais de três vezes e nunca te alcancei
sempre gostei de ser o último
o que te espera apesar do fim do jogo.

Jesús García Mora
Tradução: Ellen Maria

Geología Sentimental


Sería lindo si tú lo vieras
cómo se va partiendo
el suelo que yo creía pertenecer
a la era mesozoica
como la grieta se va
transformando
en abismo
las placas se mueven
diariamente
Intento
en vano
poner los ganchos
uno a cada lado
y pasar la cuerda
así puedes
cuando quieras
caminarla
cruzarla
y que yo pudiera
llegar hacia ti
pero es en vano
la tierra de uno de los lados
es muy
anti adherente
huidiza
no sedimentada
y silenciosa.
Así que me puse a pensar
en otras alternativas
equipos de montañismo
un avión
quizás un barco
en caso de inundación
pero después me di cuenta
que el otro lado se alejaba
aún más
cuanto más intentaba alcanzarlo
cuando yo trataba de encontrar formas
de estrechamiento
unirlos es nulo
No habrá crecida de agua
porque solo hay tiempo seco
y ninguna lágrima
No habrá pista de aterrizaje 
porque nadie quiere esperar
el trámite de la aduana
No habrá escalada
porque el miedo de altura
no lo permite.
Sería lindo si lo vieras
cómo se va partiendo
el precipicio
pero tú ya te fuiste
y sola
veo el paisaje 
desmoronando.


Ellen Maria

Fator RH

O fato
é que não morre
mas tampouco nasce
meu feto ficou retido
no departamento de RH.


Ellen Maria

9.4.15

Prótesis sentimental / Prótese sentimental

Hasta ayer creía
que nunca me recuperaría
que la vida no más luciría
que sería siempre una abierta
herida
pero hoy tuve noticias tuyas
me contaron de tu nuevo adorno
pirata sin loro
tu diente de oro
me devolvió brillo propio
(Gracias)
No me imagino con un hombre
desnudo y con sombrilla
y de sonrisa amarilla.

***

Até ontem achava
que não recuperava
que a vida nunca mais se iluminava
que seria sempre mais uma ferida
aberta
mas hoje tive notícias tuas
me contaram do teu novo adorno
pirata sem louro
teu dente de ouro
me devolveu brilho próprio
(Obrigada)
Não me imagino com um homem
pelado e de livro no prelo
com um sorriso amarelo.


Ellen Maria

8.4.15

A pata da donzela

"Porque os caubóis têm um menu. Modo trocista, modo culto, modo porno, modo tão filho da puta que só mesmo a morte por esmagamento de pata de elefante, ainda que, claro, na actual crise portuguesa não seja tão fácil arranjar elefantes como, digamos, em 1497, quando as naus saíam ali do Terceiro do Paço para meses de escorbuto e carne podre à procura da Índia."

Alexandra Lucas Coelho, O Meu Amante de Domingo.

Don't take me for granted

Sou a carne decompondo
por horas
atrás do teu último dente
esperando
você enfiar uma escova na boca
para te fazer vomitar.

Ellen Maria

Kalaf Ângelo e a borboleta

Meu menino de cor,
queria ver se você conseguiria
me ver daí
saber qual é a do dia
pensar em qual dor
é a minha preferida
fechar os olhos e beber
meus olhos uva
jabuticaba tem aí
fruta e flor
essa sua
gravata negra
borboleta
colorida que bonita está
sua poesia
chegou aqui
atravesso o mar voando
só pra ver você sorrir.

Ellen Maria

Descoberta do mundo

Vou descobrindo
mais coisas dentro de mim
que somando
os parto s
entre o céu e a terra.


Ellen Maria

7.4.15

Não

"Não menos longe
que dentro -
não menos perto
que além."

Robert Creeley
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes

Tradução

Tragamos um poema inteiro
e o versamos em todos os beijos
nas línguas outras que sabemos
Acabamos lendo mais do que devíamos
Vomitamos em prosa
e nos despedimos sem revisão.

Ellen Maria

O gato

"O gato
nunca é o gato
mas a ausência
domesticada
vê-se bem
felinamente
que de abstrato
só tem o dono
seu fruto/furto
maduro ou podre
é o salto
que interna-se
no próprio gato."

André Ricardo Aguiar

6.4.15

Caderno de dez matérias

"As linhas tortas escritas com paixão e sangue
naquele caderno de dez matérias
estampando o rosto da sharon stone
as placas indicando que o retorno é proibido
na rua onde te roubei o primeiro beijo
amores perdidos que amadurecem feito frutas feias
assim como livros que envelhecem
e ficam amarelos na árvore do tempo
cheio de galhos que pesam como
a lembrança do teu nome".

Diego Moraes

Otoño/Outono

"Otoño es un verso joven
que toma forma
en un paisaje
con pecas.
Una llovizna suave
desnuda la sangre
que hierve.
Unto el poema
en la libreta
de las noches
que aran mi frente.
La luna
alumbra tallos
a donde
caminan
mil criaturas
minúsculas".

***

Outono é um verso jovem
que ganha forma
em uma paisagem
com sardas.
Um chuvisco suave
despe o sangue
que ferve.
Unto o poema
no caderno
das noites
que aram minha face.
A lua
ilumina ramas
aonde
caminham
mil criaturas
minúsculas.

Andrés Nieva
Tradução: Ellen Maria

4.4.15

Indústria fraternal

para Graziela Lojor
Esvazie o balde
do teu peito cheio
carregado
Não é desperdício
Economia de palavras
Racionamento de lágrimas
nunca fez ninguém ficar sem luz.
Se preocupa não
o reservatório de energia
é renovável.
Banca o excesso
do teu corpo lâmpada
e beba água da fonte alheia.
A conta está paga
e a amiga abastecida.


Ellen Maria

3.4.15

Aula de desenho

Um corpo
lânguido
um corpo
invertido
um corpo
exótico
um corpo
mestiço
um corpo
rígido
um corpo
erótico
um corpo
cálido
um corpo
ao lado
uns corpos tão

o professor os apresenta
um estado
fundamental
depois, o êxodo da língua

não tiro os olhos
para
nada

morango uva melancia melões bananas
a caneta desenha
enquanto a fome
delirante se materializa

cactos marcas que se escondem
sombras cicatrizes unhas olheiras
geologias tatuagens
um coroa de espinhos sobre o útero
existem muitas maneiras de se expressar

depois troca grafite carvão lápis pincel
as mãos tremem
os dedos endurecem
(metonímia)
os rabiscos incertos
(não tiro os olhos para nada)

os modelos são fortes
as modelos são lindas
os modelos são lindos
as modelos são formas
mistura de traços na tela

os corpos não se mesclam
se entrelaçam
o meu olho compenetrado
(metonímia)
a mão está onde a cabeça quer

eu quero e desenho
eu quero e pinto
eu quero e balbucio
não teria coragem de pronunciar meu desejo
engulo a saliva em seco
(será possível?)

fingida mesquinhez
eles não me dizem
mas nem precisam
mirada de boneca inflável
(mas as musas também trepam
não trepam?)

me vem uma canção suja
eu quero te foder
eu quero te foder agora
bom dia para morrer
poderia morrer agora
ou amanhã de manhã
a letra intriga o mundo das ideias

faz tanto tempo que eu

uma hora e meia intervalo quinze uma hora
intervalo quinze
uma hora
e se me escapa a baba
agora sim

um café um cigarro uma coxinha
e vou para casa
deu por hoje meu deus
respira
que piração
quantas imagens

Foi uma tarde interminável
mas pressagio que terá uma noite

uma voz interna diz
que vou me olhar
melhor
ainda.


Ellen Maria

2.4.15

Lamentos de um morto apaixonado

Mandei uma fita pra você
pequena que ouviu e chorou
ficou com medo e correu
se desesperou
resolvi não perturbar.

Anos depois tentei me reaproximar
mas você ainda tinha medo
resolvi então parar e ver você crescer
ter paixões
deitar lágrimas de novo aprender.

Quando senti que você estava
numa gira de umbanda
emocionada e finalmente pronta
chegou minha hora
de reencarnar.

Era isso
ou ficar para sempre
a espera de alguém
que talvez nunca entendesse
o que define amor na ausência.

Ellen Maria

31 anos

"mergulhar no diverso respirando firme
entre as camadas
abarcar a névoa e o clarão.
despertar atenção para tudo relaxar
podar o capim para que ele cresça firme
flexível e reto como o mato
ter dado espaço para o outro entrar e entrar nele todo
não esquecer nada disso
mas nunca lembrar de nada
pois não há monotema nenhum
girando desconforme a galáxia
nem trilhos onde encaixar roldanas, mergulhar
mergulhar até soltar a mandíbula
inflamando o peso caindo, a inflação subindo.
há paciência e é agora
de pé no chão."

Júlia Hansen

acordar/recordar

O sol aclara os fios alaranjados da cortina
o vento a faz mover como as ondas as águas
observar o laranja dançante é sentir o mar quando acordo
espreguiço-me vagarosamente para começar o dia
fico uns minutos mais na delícia do lençol
cheiro de pijama
levanto e um pão com manteiga e café quente me esperam
não tenho pressa para comer
não tenho pressa para lavar o rosto, escovar os dentes
descobrir-me frente ao espelho
passo um vestido azul para me sentir bem dentro dele
depois farei mil coisas
passo um vestido de flores azuis e bordados
me sinto bem dentro dele
o amor verdadeiro existe
e só às vezes me esqueço
onde ele está.

Ellen Maria

1.4.15

falha distância

De longe vi a cena
e naquele momento soube
que através daquele furto
ele seria mais um homem
dos quais eu tenho medo.
Depois fui para o outro lado
desconfiada
escavando fendas
vasculhando lapsos
Quando foi
que eu deixei de perceber
que também sou bicho?

Ellen Maria

Elle

"Elle avait un nom tatoué sur la langue, qui l'empêchait de se perdre. Vous la laissiez n'importe où en ville, dans n'importe quelle rue, dans un coin soimbre, un lieu mal éclairé ou en pleine nature; qu'il pleuve, qu'il neige ou sous une insupportable chaleur; et elle s'engageait d'instinct dans la bonne direction comme une chatte qui retombre toujours sus ses pattes. Elle se débrouillait pour trouver son chemin sans même demander à quelqu'un. Quelque chose d'invisible au regarg des autres, la guidait. Elle était animée par une force inconnue et qui la protégeait. Et aussi, elle voyait qui vous étiez avant même que vous parliez. Son regard n'avait pas de limites. Elle comprenait le langage du vent, les parfums invisibles, le silence."

Rafael Concejo

Salso argento

"não vá se escalavrar nas cracas
do rochedo ao recolher o guano, meu filho;
o mar ruge como um jaguar;
pode-se lanhar o nevoeiro com suas garras;
os vagalhões arrojam mesmo as gaivotas
que cagam branco nos penhascos,
como antes me afogaram;
suas leiras podem esperar do vento
uma esteira verde que esterque as sementes,
e da noite o aljofre que dá força;
não desça hoje o penedo em busca do excremento,
ou ficarei órfão antes do nascimento"
- disse-lhe o menino, mergulhando
num remoinho de círculos concêntricos
acordou com o murucutu noturno,
e seus olhos eram uma poça de sal
quando avisou a mulher:
"nosso filho está vindo, de algum lugar,
e fala palavras iguais às de meu pai".

Josely Vianna Baptista