30.7.14

Olhos espreitados

A Genial Ellen
"Mira espreitada as linhas em branco
Olhos grandes "Betty Boop" de São Paulo.
Mira palavra certeira na mosca da questão
Gênio sorrateiro, sincera opinião.

Mira um corpo deitado num leito,
Mira uma pessoa com dor no peito.
Mira uma cobra e a mata no chão.
Mira o futuro-tristeza, uma saudade sem fim.

Escreveria um soneto
Traria flores de Soweto
Só pra ver o seu sorriso.
Mas confesso...
Sou fraco quase indeciso.

Linhas retas. Cobertas. Quem sou eu?
Difícil imaginação aguçada,
Agulha fina indolor
Que espeta minha mente
Nas tuas estórias sem amor."


Lucas Pereira (Boaz Ben Avraham)

29.7.14

Autorretrato

Sou uma carta de amor
contemporânea
e ridícula.


Ellen Maria

Resíduo

"De tudo ficou um pouco
Do meu medo. Do teu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa
ficou um pouco


Pouco ficou deste pó
de que teu branco sapato
se cobriu. Ficaram poucas
roupas, poucos véus rotos
pouco, pouco, muito pouco.


Se de tudo fica um pouco,
mas por que não ficaria
um pouco de mim? no trem
que leva ao norte, no barco,
nos anúncios de jornal,
um pouco de mim em Londres,
um pouco de mim algures?
na consoante?
no poço?


Cabelo na minha manga,
de tudo ficou um pouco;
vento nas orelhas minhas,
simplório arroto, gemido
de víscera inconformada,
e minúsculos artefatos:
campânula, alvéolo, cápsula
de revólver... de aspirina.


De tudo ficou um pouco.
E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.


Às vezes um botão. Às vezes um rato."


Carlos Drummond de Andrade

27.7.14

Esquilos de Pavlov

"Pense bem, amigo urso, pois a vida não é
um parque
um museu
um edifício-garagem
uma fábrica
a casa de alguém
(você entrando
pelo fundos
uma doninha com dois ou três
chocalhos de Maputo ou o amigo
distante que veio ontem
e ficará por quase um ano)
não é
um café
um sótão
uma taba
uma caixa-preta
um castelo nos Cárpatos
o interior de uma escola
não é uma torre
um romance negro
um autoengano com gerânios e piscos
e aranhas e vassouras e
não é dentro de uma novela gótica
no centro irradiador de todas as tensões
não é em ninguém
nem de lugar nenhum
não se abre nunca
mas pode fechar-se
duas vezes antes
de se fechar."

Laura Erber, p.32/33

26.7.14

[poema gris y sensato]

Salta
y si el paracaidas no abre
Vuela
mientras el piso no llega
Aprovecha
y si te mueres
pues, se acabó el poema.

Ellen Maria

23.7.14

[poema careca e laranja]

Vivo sem alegria e sem tristeza
porque vivo com alegria ou com tristeza
mas por pouco tempo.

Ellen Maria

16.7.14

Enciendo la lámpara de sal de la montaña

"junto a mi cama.
Me suelto el pelo
recordando las canas invisibles.
Me acuesto entre las sábanas de hilo
con la bata dorada de la China.
Debajo mi piel blanca no desea
ni en sus botones rosados
ni en sus lunares pálidos.
Sobre la almohada se escuchan mis anillos
porque está fresco, quizás,
y se afinaron mis dedos.
El oro, la plata, la amatista.
Afuera la noche se ha espesado
porque terminó la luna llena.
Empieza el mes que precede al invierno.

Qué ligera que soy sin tus deseos.

Qué dulce corre el alma
en mi esqueleto.
Qué cierta es esta cara y estos flancos
qué ciertos que son,
qué delicados.
Me admira mi gata, blanca y parda,
y yo la admiro a ella en su silencio.
Qué dulce corre el alma
Hasta el perfume rojo de las flores
tengo.

Qué ligera que soy sin mis deseos."

Carina Sedevich