31.7.15

Enter Magazine

resumo do fim de semana:
sábado de picuinhas
domingo de picanhas


Ellen Maria

30.7.15

Divorciados

peleas que duran
más que caños
amores que curan
años
el hijo que no ve
juntos los padres
cree
en hogares
que hurtan
la espera
o sabe
que
el tiempo no cierra
nada
y solo
cesa
cuando la muerte
los separa.

**

brigas que duram
mais que canos
amores que curam
anos
o filho que não vê
juntos os pais
crê
em lares
que furtam
a espera
ou sabe
que
o tempo não cerra
nada
e só
cessa
quando a morte
os separa.


Ellen Maria

29.7.15

Divagações em estantes

da bibliotecária
do sovaco eu vi
a curva pro seio
uma escadaria
pra cova
e de rolimã
solto o cinto
me lembro duns braços
de Machado
e um desejo adolescente
me comove
acabo desviando
no final
a lágrima não escorre
por pouco
é questão de panos
maduros
e de respeito
Sou eu a casada.


Ellen Maria

28.7.15

"O Big Bang Nunca Existiu"

Nascemos na mesma cidade
crescemos no mesmo bairro
explodimos na mesma rua
e espero que eu nunca mais te encontre
que você frequente outra órbita
procure outras estrelas
viaje a outros planetas
crie outra lua
porque o que era nosso e terrestre
Eu peguei tudo pra mim
também mudei de rotação
rotina e alguns hábitos
até certos satélites antigos
recuperados de algum velho ex
voltei a sentir
Mas não não
o sol de ilha grande é meu
o mar de parati é meu
e qualquer outro elemento
solo fogo fé memória expectativa
descobrimento sexto sentido os dois polos de um
o instante antes do gozo amor-adia etc
eu deixei ancorado numa boia inflável
numa praia de Kepler 452b.
O plano era esse.


Ellen Maria

27.7.15

A duração do deserto

O óvulo se transporta
com um espermatozoide dentro
flutua como se incompleto
e é
agarra toda a vida possível
depois desenvolve
zigoto mitose meiose cromossomos
os nomes todos científicos
que traduzindo
é poesia.
Dias seguem
o poema em construção se transforma
sem querer
e quer

e cai.

Sou um útero vazio
com um corpo em volta.


Ellen Maria

25.7.15

Su teoría ha detectado un problema y debe cerrarse

"Ayer quise escribir un poema llamado "Las margaritas mutantes de Fukushima"
justo antes de dormir.

Me mordió la música
y luego la imagen
capaz de construir cientos de escenarios
poblados con belleza deforme
y peligrosa. Una metáfora perfecta
de la poesía (pensé).

Tenía ya la estructura del texto cuando descubrí que su extrañeza no se debía a la
radiactividad
"sino una condición del crecimiento llamada fasciación, por la que el meristema apical del tallo se alarga de forma perpendicular en vez de crecer en un solo punto para generar las habituales formas
circulares".

Entonces todo se arruinó.

Quizás hay ciertas cosas de las cuales es mejor no escribir
porque no dan para tanto
o las metáforas son máquinas inservibles.

Sólo sé que ahora mismo
las margaritas mutantes de Fukushima escriben un poema
sobre un humano monstruo
y encuentran justamente lo que quieren decir."

**

Sua teoria detectou um problema e deve ser finalizada

Ontem eu quis escrever um poema chamado "As margaridas mutantes de Fukushima"
um pouco antes da hora de dormir.

Me fisgou a música
e logo a imagem
capaz de construir centenas de cenários
povoados com beleza deformada
e perigosa. Uma metáfora perfeita
da poesia (pensei).

Tinha já a estrutura do texto quando descobri que sua estranheza não se devia à
radioatividade
"mas sim a uma condição de crescimento chamada fasciação, pela qual o meristema apical do talo se
alonga de forma perpendicular em vez de crescer em um só ponto para gerar as habituais formas
circulares".

Então tudo se arruinou.

Talvez haja certas formas as quais é melhor não escrever
porque não dão para tanto
ou as metáforas são máquinas inservíveis.

Só sei que agora mesmo
as margaridas mutantes de Fukushima escrevem um poema
sobre um humano monstro
e encontram justamente o que querem dizer.


Luis Eduardo García
Tradução: Ellen Maria

24.7.15

mindscapes

"sylvia é mucisista. em 2003, ela sofreu uma perda de audição aguda. um ano depois, passou a escutar músicas em sua cabeça, em looping, o tempo todo. como sylvia tem ouvido absoluto, pode transcrever e gravar suas canções internas. ela fez a primeira gravação de alucinações musicais do mundo.
ph é o primeiro humano conhecido a ouvir o que as pessoas dizem antes de perceber os lábios delas se moverem. ele sofre de um distúrbio em que o cérebro registra o som da fala antes do movimento da boca. a vida de ph é uma dublagem fora de sincronia.
depois de um derrame, tommy mchugh, um expresidiário, passou a pintar e esculpir compulsivamente, além de ter começado a falar em rimas. incapaz de machucar uma formiga, tommy sente seu cérebro como "infinitos, infinitos corredores".
sandra experimenta um prazer intenso a cada vez que tem uma crise de epilepsia. ela descreve a sensação como a de um orgasmo, a que se chega progressivamente. acredita-se que dostoiévski sofria do mesmo tipo de distúrbio.
o transtorno de identidade da integridade corporal foi descrito pela primeira vez no século 18, quando um inglês ameaçou um cirurgião francês com uma arma para que serrasse uma de suas pernas.
em 2004, graham acordou e descobriu que estava morto. ele tinha a síndrome de cotard, condição em que os portadores acreditam que seu cérebro, ou partes do seu corpo, faleceram. 
heather sellers não consegue reconhecer nenhum rosto, nem mesmo o próprio. ela se vale de outros atributos, como a voz e as roupas, para identificar as pessoas.
a d. parece que, quando precisa escrever de forma analítica, está pensando pelo avesso.
a poesia é um defeito de recepção."

Jeanne Callegari

23.7.15

O bairro da minha infância

"Não são as criaturas que morrem.

É o inverso:
só morrem as coisas.

As criaturas não morrem
porque a si mesmas se fazem.

E quem de si nasce
à eternidade se condena.
Uma poeira de túmulo
me sufoca o passado
sempre que visito o meu velho bairro.

A casa morreu
no lugar onde nasci:
a minha infância
não tem mais onde dormir.

Mas eis que,
de um qualquer pátio,
me chegam silvestres risos
de meninos brincando.

Riem e soletram
as mesmas folias
com que já fui soberano
de castelos e quimeras.

Volto a tocar a parede fria
e sinto em mim o pulso
de quem para sempre vive.

A morte
é o impossível abraço da água."

Mia Couto, Tradutor de chuvas.

22.7.15

Guia

"A poesia me salvará.
Falo constrangida, porque só Jesus
Cristo é o salvador, conforme escreveu
um homem - sem coação alguma -
atrás de um crucifixo que trouxe de lembrança
de Congonhas do Campo.
No entanto, repito, a poesia me salvará.
Por ela entendo a paixão
que Ele teve por nós, morrendo na cruz.
Ela me salvará, porque o roxo
das flores debruçado na cerca
perdoa a moça do seu feio corpo.
Nela, a Virgem Maria e os santos consentem
no meu caminho apócrifo de entender a palavra
pelo seu reverso, captar a mensagem
pelo arauto, conforme sejam suas mãos e olhos.
Ela me salvará. Não falo aos quatro ventos,
porque temo os doutores, a excomunhão
e o escândalo dos fracos. A Deus não temo.
Que outra coisa ela é senão Sua Face atingida
da brutalidade das coisas?"

Adélia Prado

21.7.15

O deus abandona Antônio

"Quando, pela meia noite, de improviso ouvires
passar, invisível, um tíasos
com música soberba e cânticos,
a sorte que afinal te abandona, tuas obras
falidas, teus planos de vida
- tudo ilusório - com nênias vãs não lastimes.
Como um bravo que, há muito, já se preparava,
saúda essa Alexandria que te está fugindo.
Não, não te deixes burlar, dizendo: "foi sonho",
ou: "meus ouvidos me enganaram";
desdenha essa esperança vã.
Como um bravo que, há muito, já se preparava
como convém a quem é digno desta pólis,
aproxima-te - não hesites - da janela
e escuta comovido, porém
sem pranto ou prece pusilânime,
como quem frui de um último prazer, os sons,
os soberbos acordes do místico tíasos:
e saúda Alexandria, enquanto a estás perdendo."

Konstantinos Kaváfis
Tradução: Haroldo de Campos

**

Quando, à meia-noite, de súbito escutares
um tiaso invisível a passar
com músicas esplêndidas, com vozes -
a tua Fortuna que se rende, as tuas obras
que malograram, os planos de tua vida
que se mostraram mentirosos, não os chores em vão.
Como se pronto há muito tempo, corajoso,
diz adeus à Alexandria que de ti se afasta.
E sobretudo não te iludas, alegando
que tudo foi um sonho, que teu ouvido te enganou.
Como se pronto há muito tempo, corajoso,
como cumpre a quem mereceu uma cidade assim,
acerca-te com firmeza da janela
e ouve com emoção, mas ouve sem
as lamentações ou as súplicas dos fracos,
num derradeiro prazer, os sons que passam,
os raros instrumentos do místico tiaso,
e diz adeus à Alexandria que ora perdes.

Konstantinos Kaváfis
Tradução: José Paulo Paes

(dos meus poemas preferidos no mundo...
Paes que me desculpe, mas prefiro a tradução do Campos)

20.7.15

Justificação de Deus

"o que eu chamo de deus é bem mais vasto
e às vezes muito menos complexo
que o que eu chamo de deus. Um dia
foi uma casa de marimbondos na chuva
que eu chamei assim no hospital
onde sentia o sofrimentos dos outros
e a paciência casual dos insetos
que lutavam para construir contra a água.
Também chamei de deus a uma porta
e a uma árvore na qual entrei certa vez
para me recarregar de energia
depois de uma estrondosa derrota.
Deus é o meu grau máximo de compreensão relativa
no ponto de desespero total
em que uma flor se movimenta ou um cão
danado se aproxima solidário de mim.
E é ainda a palavra deus que atribuo
aos instintos mais belos, sob a chuva,
notando que no chão de passagem
já brotou e feneceu várias vezes o que eu chamo de alma
e é talvez a calma
na química dos meus desejos
de oferecer uma coisa."

Leonardo Fróes
(dos meus poemas preferidos no mundo)

18.7.15

Vietnã

"Mulher, como você se chama? - Não sei.
Quando você nasceu, de onde você vem? - Não sei.
Para que cavou uma toca na terra? - Não sei.
Desde quando está aqui escondida? - Não sei.
Por que mordeu o meu dedo anular? - Não sei.
Não sabe que não vamos te fazer nenhum mal? - Não sei.
De que lado você está? - Não sei.
É a guerra, você tem que escolher. - Não sei.
Tua aldeia ainda existe? - Não sei.
Esses são teus filhos? - São."

Wislawa Szymborska.

17.7.15

Prato do dia

Eaí eu quero escrever
mas fico preocupada se não vou começar
me entusiasmar como sempre passa
e esquecer o feijão no fogo
outra vez
como tantas outras vezes
mas dessa vez
vem visita jantar comigo
e se queimo o feijão
porra
vai ser pizza de novo
Todos meus melhores textos têm gosto de feijão queimado.


Ellen Maria

16.7.15

Precária síntese

Na minha sala enquanto eu esmalto com vitaminas minhas unhas das mãos
penso que divido com o planeta apenas alguns anos
e não adianta negar a indiferença com que o trato
que ficará mais aliviado quando eu for embora
ainda relutante
porque diabos também acho que devo permanecer nessa forma insistente de vida

esmalto com vitaminas
alimento com vitaminas
obsessão destes anos com vitaminas
a população inteira obcecada por estar viva
e o alívio do planeta quando eu e nós finalmente for

no fundo
não há nada que o faça mudar de ideia.


Ellen Maria

15.7.15

Eleição na/de terra natal

um pôr-do-sol me escreve
em outubro
e vaza espuma
pelos poros
da praia

Santos pra que te quero
São Vicente te espero
verde
lágrima salgada
geral espera
pra ver
se a onda leva
o nome

pelos canais
abaixo

avenida prefeito
presidente
fica areia em tudo
quanto é lado

sobra memória
papeis de voto
nos esgotos de qualquer
cidade

e vontade de voltar
sempre
que der voz
foz
segundo turno
declaração na tevê
em primeiro de janeiro

te quero mais que
(a) eles.


Ellen Maria

14.7.15

Prólogo

" Não mais, Musa, não mais, que a Lira tenho..."
Luís Vaz de Camões

Quando as noites ganharam patas
e deixaram de rastejar pela beira
respirando cada vez menos dentro d'água
enfiando seu focinho gelado pelo lodo
e abrindo a boca atrás de outras criaturas
que, como elas, já sobreviviam fora do rio
eu deixei de amar você.
Isso foi quando estas já não discutiam se os homens
eram seres inteligentes ou somente os predadores mais ferozes dos últimos tempos
capazes de causar tempestades químicas com a mesma paixão
que aplaudiam um teatro de fantoches
quando às religiões convinham conter a verdade ou à natureza das coisas
e era patrimônio imaterial da humanidade a cultura da memória
Depois, tudo foi epílogo.


Ellen Maria

13.7.15

Cómo perder un trabajo

"Dia 10

el final está cerca:
lo sabemos.
somos casi vacas
viajando en un camión jaula
pero hacia el desempleo,
enfrentemos esto como adultos
"límpiense las lágrimas
antes de bajar del ascensor".


Día 8

engañé al cajero automático
que me dio 400 pesos
y no lo registró

comemos sentados
en el patio del shopping
agarro una aceituna
muerdo hasta llegar al carozo
mientras miro a una chica que tiene un buzo que le tapa el short
y parece que no tiene nada
pienso en un poema que diga
que nos hacemos grandes cuando empiezan a gustarnos las aceitunas
como me dijo alguien que no recuerdo.

soy la vieja chota de mi vecina

"sabes cuál es la diferencia entre estos pibes y nosotros cuando
teníamos 15?
que estos cogen."


Día 3

qué voy a hacer con el despertador
después del miércoles
cuando ya no lo necesite?
es probable que lo extrañe,
made in china
color marrón, muy chiquito
perturbador y profundo
para fichar ocho en punto

perturbador y profundo,
como perder un trabajo."

Rosina Lozeco (1989)

10.7.15

Cierta edad

"Cuando se llega a cierta edad, uno deja de ser el protagonista de sus acciones: todo se ha transformado en puras consecuencias de acciones anteriores. Lo que uno ha sembrado fue creciendo subrepticiamente y de pronto estalla en una especie de selva que lo rodea por todas partes, y los días se van nada más que en abrirse paso a golpes de machete, y nada más que para no ser asfixiado por la selva: pronto se descubre que la idea de practicar una salida es totalmente ilusoria, porque la selva se extiende con mayor rapidez que nuestro trabajo de desbrozamiento y sobre todo porque la idea misma de 'salida' es incorrecta: no podemos salir porque al mismo tiempo no queremos salir, y no queremos salir porque sabemos que no hay hacia donde salir, porque la selva es uno mismo, y una salida implicaría alguna clase de muerte o simplemente la muerte. Y si bien hubo un tiempo en que se podía morir cierta clase de muerte de apariencia inofensiva, hoy sabemos que aquellas muertes eran las semillas que sembramos de esta selva que hoy somos. Sin embargo hoy vi, hacia la caída del sol, el reflejo de unos rayos rojizos del sol en unos ladrillos de cerámica barnizada, y me di cuenta de que aún estoy vivo, en el verdadero sentido de la palabra, y de que aún puedo llegar a situarme en mí mismo: todo es cuestión de encontrar cierto punto justo, mediante cierta voltereta espiritual; no puedo evitar la maraña de consecuencias, no puedo pretender ser el protagonista, otra vez, de mis acciones, pero sí me es posible rescatarme dentro de esas nuevas pautas, aprender a vivir otra vez, de otra manera. Hay una forma de dejarse llevar para poder encontrarse en el momento justo, y este 'dejarse llevar' es la manera de ser el protagonista de las propias acciones - cuando uno ha llegado a cierta edad." 

Mario Levrero

9.7.15

Once de septiembre

"El once de septiembre del dos mil uno
mientras las Torres Gemelas caían,
yo estaba haciendo el amor.
El once de septiembre del año dos mil uno
a las tres de la tarde, hora de España,
un avión se estrellaba en Nueva York,
y yo gozaba haciendo el amor.
Los agoreros hablaban del fin de una civilización
pero yo hacía el amor.
Los apocalípticos pronosticaban la guerra santa,
pero yo fornicaba hasta morir
-si hay que morir, que sea de exaltación'.
El once de septiembre del año dos mil uno
un segundo avión se precipitó sobre Nueva York
en el momento justo en que yo caía sobre ti
como un cuerpo lanzado desde el espacio
me precipitaba sobre tus nalgas
nadaba entre tus zumos
aterrizaba en tus entrañas
y vísceras cualesquiera.
Y mientras otro avión volaba sobre Washignton
con propósitos siniestros
yo hacía el amor en tierra
-cuatro de la tarde, hora de España-
devoraba tus pechos tu pubis tus flancos
hurí que la vida me ha concedido
sin necesidad de matar a nadie.
Nos amábamos tierna apasionadamente
en el Edén de la cama
-territorio sin banderas, sin fronteras,
sin límites, geografía de sueños,
isla robada a la cotidianidad, a los mapas
al patriarcado y a los derechos hereditarios-
sin escuchar la radio
ni el televisor
sin oír a los vecinos
escuchando sólo nuestros ayes
pero habíamos olvidado apagar el móvil
ese apéndice ortopédico.
Cuando sonó, alguien me dijo: Nueva York se cae
ha comenzado la guerra santa
y yo, babeante de tus zumos interiores
no le hice el menor caso,
desconecté el móvil
miles de muertos, alcancé a oír,
pero yo estaba bien viva,
muy viva fornicando.
"Qué ha sido?", preguntaste,
los senos colgando como ubres hinchadas.
"Creo que Nueva York se hunde", murmuré,
comiéndome tu lóbulo derecho.
"Es una pena", contestaste
mientras me chupabas succionabas
mis labios inferiores.
Y no encedimos el televisor
ni la radio el resto del día,
de modo que no tendremos nada que contar
a nuestros descendientes
cuando nos pregunten
qué estabamos haciendo
el once de septiembre del año dos mil uno
cuando las Torres Gemelas se derrumbaron sobre Nueva York."

Cristina Peri Rossi

8.7.15

mulher terra em transe

É frio
de trincar anseios
joanete morde meias
rasga segunda pele
dilata couro
arrebenta botas
escancara seu tamanho
(contido)
osso que faz doer
abrochar a pressa
tesa
trocar qualquer caminho
pelo esticar do dedo

Desatados os nós,
não semeia gritos

aponta:

vermelha
roxa
branca
e preta

descalça,
minha joanete é metonímia
um corpo em expansão.


Ellen Maria

2.7.15

medo de morrer

"eu tinha medo de morrer tímida mordia a ideia
tinha medo do suicídio sendo tão tímida
outras noites já batiam meu queixo
outras dicções
e eu ainda com medo de morrer tímida
mudei os móveis de lugar
encontrei uma agulha perdida tinha anos
e ainda o medo de morrer tímida
abocada numa quina da casa
a boca tão perto do segredo
tímida
lembrando a uma poltrona torta
lembrando a uma boca morta
um peixe sem boca
uma poltrona sem braços".

Carla Diacov, Amanhã alguém morre no samba.

1.7.15

En elogio de mi hermana

"Mi hermana no escribe poemas
y es improbable que de pronto se ponga a escribir poemas.
Le viene de mi madre, que no escribió poemas,
y de su padre, que tampoco escribió poemas.
Me siento a salvo bajo el techo de mi hermana:
nada pondrá al esposo de mi hermana  a escribir poemas.
Y aunque la cosa suena a poema de adam Macedonski,
a ninguno de mis parientes le da por escribir poemas.
En el escritorio de mi hermana no hay poemas viejos
ni poemas nuevos en su bolsa.
Y cuando mi hermana  me invita a comer,
sé que no es con la intención de leerme poemas.
Cocina sopas soberbias con facilidad,
y su café no se derrama sobre manuscritos.
En muchas familias nadie escribe poemas,
pero cuando no es así, rara vez es uno solo.
A veces la poesía fluye en cascadas de generaciones,
lo cual instala temibles remolinos en las relaciones familiares.
Mi hermana cultiva una decente prosa hablada,
toda su producción literaria está en tarjetas postales
que prometen lo mismo cada año:
que cuando vuelva,
nos va a contar todo,
todo,
todo."

Wislawa Szymborska.