29.2.16

O espetáculo da pedra

selvagem ela
levanta, cuida das folhas das plantas
tira os nós dos cabelos
as raízes dos dias cheias de umidade
trabalha em silêncio
até a noite quando avança
pelo chão da sala e olha o teto
dedos entrelaçados atrás da cabeça
cresce sem perceber
também se alimenta de luz
até que não se cabe.


Ellen Maria

28.2.16

fornifilia

"sentarte y mirar
en lo que te sientas
es una pérdida de tiempo
excepto si lo amas

y que entre
las vértebras
aparezca una silla

con la pierna
rota

qué
destrucción

qué amada"

Ismael Velazquez Juarez

27.2.16

Poema de la felicidade

"Estamos puestos
sobre la torta
como muñecos
de nobio y novia.
Kuando venga la kyse
aun intentaremos
permanecer nel mismo pedazo."

Ronny Someck

26.2.16

Escudo humano

Ele chega sozinho e ela se assusta, mas não muito. Não é a segunda nem a terceira vez que ela o vê circulando por ali. Mas é a primeira que ele desce do carro. Caminha em sua direção com peito estufado. Típico. Gira a chave do carro entre os dedos até guardá-la no bolso quando está há poucos passos dela. Mesmo vestido de civil, ela sabe bem o que ele é.
Ele a encurrala, ela não foge. Pede um beijo, o que ela nega, voltando a cabeça para o outro lado, dura. Sem morder os dentes.
Ainda nessa posição, ela pede para que ele não faça nada com ela.
Ele a mede de cima a baixo em silêncio, um de seus braços esticado à parede, ela não sabe se mantém a cabeça abaixada ou se já o encara; e com os olhos ainda oscilando entre suas tetas e a mão esquerda no ar contornando as formas do corpo mas sem tangê-la, ele diz firmemente que ela então faça um agradinho em sua pistola, única condição para que você sabe né, uma lembrancinha em troca de uma noite tranquila de trabalho. Ela sabe bem do que ele está falando.
Ele tira a arma da cintura, puxa a alavanca de desmonte, arranca o cartucho de balas e a entrega pelo cano, se aproximando um pouco mais, movimento que ela não tem como retroceder.
Sem tirar os olhos dos olhos dele, ela deixa seus lábios entreabertos, sobe a saia na cintura, e enfia a arma entre as pernas, controlando o tanto que entra e que sai, sem demonstrar nenhuma emoção facial.
Ela repete o movimento até que percebe que começa a escorrer.
Sendo a única responsável pela velocidade a qual maneja o sobe e desce do ferro frio, sabe como fazer se molhar mais rápido.
Alguns segundos mais, e devolve a pistola ao homem.
Ele faz que vai cheirá-la, mas não cheira. Guarda. Sai sem falar nada.
Ela o segue com o olhar. Registra a placa, o carro, as costas, a cara. Quando entra no carro, ele abre a braguilha da calça; ela, na parede, abaixa a saia. Ele faz um gesto a ela, com a cabeça e a mesma mão esquerda de "passar bem".
Ela vai.
Passa o ponto para a próxima. E é a última que passa por isso.


Ellen Maria

25.2.16

Vértice

Vértice,
costela funde
o que é terno
com a carne dura.

Um ponto de equilíbrio
entre duas retas
cordura etérea
e certas fúrias

se encontram no infinito.


Ellen Maria

24.2.16

querida ferida

"querida. 01 noite pode durar 3 dias (e ser uma apoteose de brigas e cantos e galos bêbados lágrimas carícias-de histórias russas protagonizadas por bailarinas). assumir o risco: levá-lo no peito p/ todos os lados./estrelas, planetas, álcool: o coquetel explosivo nas mãos do universo-ou nos teus bolsos/. querida.pense no big bang: isto é,ato de vandalismo repetido a cada vez que a águia sai da tua cabeça(e grita)e encontra o lobo sobre a minha;a cada vez q o peixe atravessa os fluidos tuas águas o doce de leite e chega se debatendo em tua perna(ou chaga a minha língua).recordo e reconto todas as penas de uma ave extinta(q sobrevive pelo plágio das aves tóxicas q ainda voam em nossos dias). 1 noite pode durar 03 vidas(e ser a colina úmida sobre a qual os pés esfriam qnd já nda contém a paixão q escapa do barro e dos lábios:td pode ser expulso às quatro da manhã-eu não fui.querida). huma noche pode durar 3 dias. ou nunca mais acabar, tatuar-se complicada em nosso peito.ferida."

Rodrigo Lobo Damasceno

23.2.16

imagem e rastro

que foi da sua vida
heráclito
daqui não vejo
a outra margem
uma rosa afunda
um rio corta
o passado fica
ainda bem
que nunca volta.


Ellen Maria

22.2.16

O senhor das moscas

Torna-se homem
quando uma mulher
lhe tira os cravos
das costas.

Ellen Maria

21.2.16

Produto de exportação

a carne
na câmara fria
o corte
no banho de prata
uma imagem
em tiras:


Ellen Maria

20.2.16

verbos de pensamiento

está más bello
cuando es el resto del cuerpo
que produce la verdad
y la boca solo
reproduce.


Ellen Maria

19.2.16

Leitura livre

Entre o suco
e o soco seco
lei dos seis segundos

amassou a coxinha
amaciou a carne
jorrou sangue.

E antes do knockout
o sinal: ufa!
Fim do recreio

jogo ou rinha,
frangos em frangalhos
esparramados pelo chão.


Ellen Maria

18.2.16

La Nausea

"Tú sabes que ponerse a querer a alguien es una hazaña. Se necesita una energía, una generosidad, una ceguera... Hasta hay un momento, un principio mismo, en que es preciso saltar un precipicio; si uno reflexiona, no lo hace."

Jean-Paul Sartre

17.2.16

Qué adelanta

"Qué adelanta tener un lindo kuerpo
y un espíritu de chancho?
Hay gente que adora cagar
Pero yo definitamente odio cagar
Si pudiera non cagaria nunca
Harto que ando de tanta idiotez lúcida y tanta lucidez idiota
La locura, quando es feliz, es mucho más divertida
Si pudiera me alimentaría solamente de aire agua y sol
Viajaria mais y cagaria menos
Comes es una perdida de tiempo que te deja gordo
como un globo inútil y feo
No entiendo la gente que vive para comer
siendo que siempre será mucho más lindo comer para vivir
y no perder tanto tiempo hablando pelotudeces
com gente soberbia que nunca va a saber distinguir um pato de um pollo
nim un pollo de uma gallina y mucho menos una gallina de uma pata
Yes, me gusta mais orinar
sobre las cabezitas de hormigas fronterizas
Pero kuando non me queda otra
me voy al baño y paso um telegrama a la famosa babilonia
Qué adelanta tener guita fama y poder
y ser mais um HDP importante?
Non me abergüenzo de ser medio idiota medio sabio
medio loko medio genio paranoico
Non escondo mi locura
Qué adelante tener un hermoso kuerpo
y un espiritu de chancho?
Quem me puede responder eso?
Qué adelanta saber leer y escribir
y tener un espírito de chancho?
Qué adelanta lo que adelanta
aunque non adelante nada adelantar tanto?
Primero el espíritu
Después el kuerpo
ou perdés primeiro el espirito
y después perdés el kuerpo
Nunca lo olvidei
Nunca lo voy a olvidar
Es muy desalentador
andar mal acompanhado en una guerra
Hay que ubikar los bueyes frente a la carreta
Si non el dia queda empacado
Cualquier idiota de la frontera
te lo puede mostrar con su latin salvaje
em medio a la abundante mentira grecoguaranga
de la felicidad economica
Traicionar es tan fácil como pedar
Dificil es vivir sin cagar
Sim, amigos lectores, hipócritas ou non, poco importa
Odio cagar
La vida es bella
apesar de la bosta humana".

Douglas Diegues

16.2.16

Os sentidos sentidos

"o amor que a mim comove
e a qualquer homem
o baixo ventre
o baixo ventre
e também os seios às mulheres
o amor que enverniza a flor
o mal
a fúria de dois leões
que ferem a pele
do amor
e não o cerne do amor
que a mim comove
o alto coração
como alto ar que aura
a fronte da acrobata
é lenda?

podes ser falsa
e oscilas como o riso
da fímbria do rictus
de um olho de vidro
do prateado poeta
para a vida
ou como a serpente estendida
sob a escama sibilina
come a flauta
o poeta
alisa tua seda
é lenda?

o nome quer brilhar a língua
língua é lenda
a própria lenda é lenda
além da."

Augusto de Campos

15.2.16

Corpo outro

"Este corpo é outro. Completamente novo.
Este corpo de agora já não te reconhece.
Já não sabe do teu cheiro. Este corpo
todo outro não tem mais fome do teu gosto.

Este corpo refeito, querido, este corpo
não é aquele corpo antigo. É outro
inteiro novo, Este corpo
é polido. É um corpo sem frisos.

Eu tenho agora um corpo novo
que nunca foi visto. O corpo
refeito é um corpo moço.
É um corpo sem vincos.

Este corpo em branco
é um corpo inteiro, limpo
é um corpo novo, curado. É um corpo
sem tatuagem. Sem cicatriz.

É um corpo inteiro, inteirinho novo
e é só meu este corpo agora.
Este corpo que não te reconhece. O corpo
é um corpo sem memória.

O que eu era está morto".

Vanessa C. Rodrigues

14.2.16

poema de amor

"este é um poema de amor

por isso nele
não poderá faltar
a menção
de alguma flor

e por isso digo
rosa
ou lírio
ou simplesmente
rubro,
rubro

e espero as páginas imantarem-se
de vermelho

por isso digo
febre
e noite
e fumo

para dizer
ansiedade e
desperdício de sêmen e de horas
e cigarros à janela
acesos como estrelas
com a noite numa ponta
e nós
consumindo-os
na outra

este é
definitivamente
um poema de amor

por isso nele
devo dizer
casa
e olhos
e neblina

e não devo dizer
que o amor é uma doença
uma doença do pensamento
uma desordem que põe tudo o mais
em desordem
uma perda que põe tudo
a perder

e porque é
um poema de amor
sob pena de ser devolvido
com uma carta sem destinatário
(e todos sabem que não se deve
brincar com os correios)
este poema deve dirigir-se
a alguém

porque a alguém o amor deve ferir
com sua pata negra

e então
à falta de outro
este poema
eu o dedico
(mas não tema,
o tempo
também nisso
porá termo)
a você."

Ana Martins Marques

13.2.16

Eros, el dulce-amargo

"Hay algo excepcionalmente convincente en las percepciones que uno tiene cuando está enamorado. Parecen más verdaderas que otras percepciones, y más verdaderamente propias, ganadas a la realidad a un costo personal. Se siente una mayor certeza respecto del amado como complemento necesario. Los poderes de la imaginación se confabulan en esa visión, evocando posibilidades que trascienden lo real. De golpe un yo nunca antes conocido, que ahora da la impresión de ser el verdadero, adquiere nitidez. Una ráfaga divina puede atravesarte y por un instante un cúmulo de cosas factibles de ser conocidas parecen posibles y presentes. Después se impone el límite. Uno no es un dios. Uno no es ese yo ampliado. De hecho, uno no es siquiera un yo completo, como queda ahora en evidencia. Ese nuevo conocimiento de posibilidades es también un conocimientos de lo que falta en la realidad."

Anne Carson
Traducción: Ezequiel Zaidenwerg

12.2.16

Lembrete

"entender que todo lance de ter cuidado é de uma irresponsabilidade fodida. a anarquia que é botar esses meus olhos de manicômio largado nos homens. sem mais nem menos perguntar as horas, que dia é amanhã. qual o gosto do útero. se com cinquenta pombas faz-se lixeira ou avião. quantos anos você escondeu no último pesadelo. se deus é um bom partido porque trai descarado. filiar-se à loucura, tomar seu partido seu latido sua hemorragia. os gametas vão e vêm, as estrelas continuam mortas - em especial nos poemas. todo medo é falcatrua ocidental. eu quero me tramar na sua casa hoje. perpetuar a tua língua por um milésimo de segundo. só o tempo de o sinal abrir e o carro de trás
buzinar. porra, a confluência das peles. looping eterno: desejo não desejo / desejo não desejo / desejo. ninguém diz o que é preciso ouvir. por essa razão surpreender a petulância com uma cobra na mão e uma dose de pinga noutra. ser maria bonita, gerda, guerra do golfo. limpar o peixe com as unhas, não terminar os livros porque eles nunca começaram. nunca houve o primeiro. chá gelado, monogamia, bife de fígado, blue balls, cordialidade, baseado nos estudos de, segundo a historiografia do, barulho de giz na lousa. com quantas canetas bic se monta um consolo pra tudo isso. eu quero me tramar na sua casa hoje porque ainda não posso com o mundo. porque ainda me agarro à conversa fiada, porque ainda tenho cuidado e covardia gravitados nas ancas, nas estalactites depois do assobio fraquejado. não tem nada mais deprimente do que karaokê vazio e os olhos de quem desistiu de atear fogo num bonde."

Natasha Felix

11.2.16

resumo da história:

Um coração cheio de nortes morde o pano
encharcado de sangue gozo e lágrimas
e se arroja convicto
pela janela
levando vidros vidas e morte
sem se importar
com as veias, pele, nada
que se move ao redor dele.

Não foi assim mas isso é o que sobra
do que fez a faca à carne:
um corpo arquivo de quinhentos dias
um atlas de um país sem nome
e sem escala.


Ellen Maria

10.2.16

particular

"Nunca há testemunhas. Há desatentos. Curiosos, muitos.
Quem reconhece o drama, quando se precipita, sem máscara?
Se morro de amor, todos o ignoram
e negam. O próprio amor se desconhece e maltrata.
O próprio amor se esconde, ao jeito dos bichos caçados;
não está certo de ser amor, há tanto lavou a memória
das impurezas de barro e folha em que repousava. E resta,
perdida no ar, por que melhor se conserve,
uma particular tristeza, a imprimir seu selo nas nuvens."

Carlos Drummond de Andrade

9.2.16

La consecuencia

"Esto es un árbol. La raíz dice raíz,
rama cada rama, y en la copa
está la sala de recibo
de un mirlo que habla.

La mesa donde escribo
-una fiesta de solteras-
está hecha de madera de ese árbol
convertida por el uso y por el tiempo
en la palabra mesa.

Es porque da frutos que caen
y por el gremio perenne de sus hojas
que renueva el árbol
y que existe la palabra árbol:

aunque a veces el bosque
lo oculte a la vista, lo contiene
el árbol en la palabra árbol.

Y no es que éste sea un poema abstracto.
Es que las palabras se repiten entre sí
por el sentido: son solteras y sociables
y de sus raíces crece un árbol."

Mirta Rosenberg

8.2.16

Como y duermo con un desconocido

"Lo que un avión permite:
el filo moderado de un cuchillo,
dos o tres formas de acomodar el papel metal
plegado prolijamente o hecho un bollo, las mismas formas
de acomodar el cuerpo en el asiento
ahora que la azafata apaga las luces sin palabras de despedida
como una madre severa o muda,
esta cabeza desconocida no encuentra el lugar
no se entrega al sueño
cae en mi hombro, se levanta
prudente oscilación
del vino en la copa descartable
no cruzamos palabra
pero algo cruza cada tanto
la frontera del apoyabrazos
mi mano que alcanza
la copa a la azafata, o el ritmo de esa respiración
que se agrava, se resigna
se quedó dormido, pienso
pero quién
se quedó dormido
no tiene nombre
se quedó dormido
insisto y mis párpados
se van cerrando
como una madre cierra
lentamente la puerta
hasta escuchar el click
mi cabeza cae, estoy
en el hueco de un hombro."


Silvina López Medin

7.2.16

mnemo.

"Há um resíduo de futuro
no vento, fotograma ante-
cipado, montagem de fragmentos
induzindo à cena. Como
aquela árvore se curvando com-
placente aos invisíveis pesos,
como o mormaço
predizendo chuva. Repito,
há um canto anterior
a qualquer canto, uma réstia,
um eco primeiro, como um som
que ressoa por dentro de cada
palavra, como todo gesto se
desenha e apaga, então
novamente. Há o revés,
o diáfano, o termo, beleza
posta e perdida, o desen-
cadeamento, assim
como a sede do vapor
por uma forma, assim
como tudo retorna
à imaginação
por trás da cortina
da memória."

Angélica Freitas

6.2.16

Pés

"a pedicura disse-me que
os meus pés eram bonitos
apeteceu-me saltar-lhe
para os braços, mas
em vez disso, observei-a
não sem admiração
desconhecia que havia tantas
limas para a mesma ocasião
no fim, recusei pagar-lhe pois
o que ela havia dito
não tinha preço
falando, tirou-me uns calos que
há séculos me atormentavam

(aliás, as palavras são de graça
quanto mais beleza
a ninguém pertencem
a ninguém cabe vendê-las)."

Bénédicte Houart

5.2.16

De madrugada, de manhã

"1.
Acordar no meio da noite
com a cabeça do outro
sobre o peito,
travesseiro,
maré e barco;
permanecer desperto, à deriva
o resto da noite, dormentes
e doloridos os membros,
a circulação cindida,
sem desejo de resgate
e sussurrar-lhe ao ouvido:
unsere knochenknospen schnurren und schnorrem,
nossos brotos d'ossos ronronam e imploram,
como em qualquer hino,
meu querido.

2.
Eu desconheço quanto
deserto custa
uma epístola
aos coríntios;
se a cegueira
no caminho
precede sempre
(e vale)
a cidade
de destino;
se na garganta
um novo cântico
dos cânticos aguarda
ou se quatorze anos
de fôlego preso
hidratariam um soneto;
eu falo baixo
porque deixá-lo
dormir meia-hora
a mais é minha forma
de acariciá-lo
logo de manhã
que, envolto em lã,
ignora o abalo
sísmico
em mim:
um bocejo
seu."

Ricardo Domeneck

4.2.16

Resistência

"Dois soldados motoristas alemães chegaram às portas de Atenas. Ordenaram a um rapazinho que subisse a uma torre e arriasse a bandeira, envolveu-se nela e atirou-se do alto da torre. No mesmo momento em que começava a ocupação da Grécia começava também a resistência."

Eduardo Haro Tecglen

3.2.16

( )

"(Levántate).
Ahora todo es esperar, y a nadie le importa.
Cuanto tu espera termina, este cuarto aún existirá
y seguirá teniendo zapatos, vestidos, cajas.
Y tal vez, algún día, otra persona que espera.
O tal vez no. A la habitación tampoco le importa
(...)
Lo que una vez fue un emocionante y misterioso futuro
ya ha quedado atrás. Vivido. Entendido. Decepcionante.
Te has dado cuenta de que no eres especial.
Has luchado tanto por existir, y ahora te deslizas silenciosamente hacia la nada.
Es la experiencia de todos. La de todos y cada uno.
Los detalles apenas importan. Todos somos todos.
Así que tú eres Adele, Hazel, Claire, Olive. Eres Ellen.
Todas sus penas son tuyas. Toda su soledad. Su pelo gris y lacio.
Sus manos rojas y toscas. Todo tuyo.
Ya es hora de que lo entiendas.
(Camina).
Mientras la gente que te adora deja de adorarte,
mientras mueren y pasan al más allá,
mientras te despojas de ellos,
de tu belleza y tu juventud,
mientras el mundo te olvida y reconoces tu fugacidad
mientras pierdes tus características una a una,
mientras descubres que nadie te mira y nunca lo ha hecho,
tú sólo piensas en conducir.
No en que vienes de un sitio y te diriges a otro.
Tan sólo en conducir, viendo pasar el tiempo.
Ahora estás aquí. Son las 7:43.
Ahora estás aquí. Son las 7:44.
Y ahora, ya no estás."


Charlie Kaufman

2.2.16

Direitos de autor

"com os direitos de autor do meu primeiro livro de poesia
comprei um m&m amarelo
(amendoins cobertos de chocolate)
duvido que alguém tenha saboreado os meus poemas
com tanto alarido

com os direitos do segundo
comprei dois m&ms
fiquei abundantemente contente e
de queixo bem lambuzado
como convém

cada m&m lembrava-me o álvaro
que dizia, e passo a citar
come chocolates, pequena, e
eu, citando novamente,
comia chocolates, pequenos

com os do terceiro
que ainda não escrevi
já me cresce água na boca
reservei m&ms na mercearia
e pus a boca em pause
embora muito a contragosto

bem vejo como este poema é prosaico
as minhas desculpas
os direitos de autor não dão
para mais metáforas do que isto

(e, de resto, ele tinha razão, o álvaro
o mundo é uma gigantesca pastelaria
onde uns comem, outros veem comer)."

Bénedicte Houart.

1.2.16

Siesta

"Nos dávamos as costas
esse som afogado
mãe, o que era:
pela primeira vez escutava você chorar,
fiquei quieta
apertei o travesseiro contra a orelha
o travesseiro com cheiro do seu cabelo
não perguntei
não me virei
esperei que passasse mas crescia
seu pranto
entre as duas.
Fizemos o que podíamos, ficamos
cada uma em seu lugar
e em algum momento, dormimos."

**

"Nos dábamos la espalda
ese sonido ahogado
madre, qué era:
por primera vez te escuchaba llorar,
me quedé quieta
apreté la almohada contra la oreja
la almohada con el olor de tu pelo
no pregunté
no me di vuelta
esperé que pasara pero crecía
tu llanto
entre las dos.
Hicimos lo que pudimos, quedamos
cada una en su lugar
y en algún momento dormimos."

Silvina López Medin
Tradução: Ellen Maria