5.2.16

De madrugada, de manhã

"1.
Acordar no meio da noite
com a cabeça do outro
sobre o peito,
travesseiro,
maré e barco;
permanecer desperto, à deriva
o resto da noite, dormentes
e doloridos os membros,
a circulação cindida,
sem desejo de resgate
e sussurrar-lhe ao ouvido:
unsere knochenknospen schnurren und schnorrem,
nossos brotos d'ossos ronronam e imploram,
como em qualquer hino,
meu querido.

2.
Eu desconheço quanto
deserto custa
uma epístola
aos coríntios;
se a cegueira
no caminho
precede sempre
(e vale)
a cidade
de destino;
se na garganta
um novo cântico
dos cânticos aguarda
ou se quatorze anos
de fôlego preso
hidratariam um soneto;
eu falo baixo
porque deixá-lo
dormir meia-hora
a mais é minha forma
de acariciá-lo
logo de manhã
que, envolto em lã,
ignora o abalo
sísmico
em mim:
um bocejo
seu."

Ricardo Domeneck

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