"Sei o que quero fazer da minha vida, e tudo isso é tão simples, mas era tão difícil para mim no passado. Quero dormir com muitas pessoas - quero viver e ter ódio de morrer - não vou lecionar, nem fazer o mestrado depois da graduação... Não pretendo deixar que o meu intelecto me domine e a última coisa que quero é cultuar o conhecimento ou pessoas que têm conhecimento! Não dou a mínima para o acúmulo de fatos de ninguém, exceto quando se trata de uma reflexão sobre a sensibilidade elementar, de que eu de fato preciso... Quero fazer tudo... Ter um modo de avaliar a experiência - se me causa prazer ou dor, e tenho de ser muito cuidadosa quanto a rejeitar a dor - tenho de perceber a presença do prazer em toda parte e encontrá-lo também, pois ele está em toda parte! Quero me envolver completamente... Tudo é importante! A única coisa a que renuncio é a capacidade de renunciar, de recuar: a aceitação da mesmice e do intelecto. Eu estou viva... Eu sou linda... O que mais existe?"
Susan Sontag
30.7.17
27.7.17
Wireless
o medo de se perder, mundo
punk, desenhando à faca na água suas dúvidas, você
conversa consigo pelo espelho oxidado em terceira
pessoa, rasurando à unha o nitrato, comendo grama
por grama o retrato que lhe vem na prata
quando rói os dedos entre os campos
minados, o medo
de se perder [“converse comigo”], nada
mais pode ser dito depois
que o chão desaparece, mundo
junkie, jungle, os hipopótamos são os únicos
que atravessam a rua sem esmagar
as flores no asfalto, linces e gazelas
não, você está
solto no espaço e nenhum céu
desaba, antes
permanece imóvel em aparência no instante
em que você escorre a esmo pelas trilhas
e deleta arquivos antigos [“converse
comigo”], menos laços, odiar
as lembranças, o medo
de se perder, mas é justo
pra onde você
vai.
conversa consigo pelo espelho oxidado em terceira
pessoa, rasurando à unha o nitrato, comendo grama
por grama o retrato que lhe vem na prata
quando rói os dedos entre os campos
minados, o medo
de se perder [“converse comigo”], nada
mais pode ser dito depois
que o chão desaparece, mundo
junkie, jungle, os hipopótamos são os únicos
que atravessam a rua sem esmagar
as flores no asfalto, linces e gazelas
não, você está
solto no espaço e nenhum céu
desaba, antes
permanece imóvel em aparência no instante
em que você escorre a esmo pelas trilhas
e deleta arquivos antigos [“converse
comigo”], menos laços, odiar
as lembranças, o medo
de se perder, mas é justo
pra onde você
vai.
Nuno Rau
24.7.17
década
"se você tem, de fato, algo a escrever
sobre o tempo, perceba que ainda uma outra
vez ele passou de vez sem que você
soubesse que a chance de dizer as poucas
coisas que parecem claras, na esperança
vaga de que tais palavras sustentadas
pelo poema possam, na sua dança,
tatuar em outro corpo a mesma marca,
está perdida: o mundo segue algum
desvio, desesperos portáteis, vãos,
gomorras sem o olhar de um deus, distopia
e corrosão do século vinte e um,
dessublimações, falsa anunciação
que lhe afunda em soul, sexo e melancolia."
Nuno Rau
17.7.17
"Porque sua camiseta secou ao sol ela tem a cor do sol
porque seus cabelos secaram ao vento seus pensamentos têm
a velocidade do vento
a velocidade do vento
porque você disse “noite” sua boca
terá o gosto do mar noturno
terá o gosto do mar noturno
porque você não conheceu meu avô você me amará menos
porque não te conheci quando criança eu te amarei mais
porque não te conheci quando criança eu te amarei mais
porque você conheceu os meus livros antes de me conhecer
você nunca vai me conhecer"
você nunca vai me conhecer"
ana martins marques
16.7.17
Caso lluvioso
La lluvia me irritaba. Hasta que un día
descubrí que era maría que llovía.
La lluvia era maría. Y cada pringo
de maría empapaba mi domingo.
Y mis huesos mojando, me dejaba
como tierra que la lluvia labra y lava
Yo era todo barro, sin verdura...
maría, ¡lluviosísima criatura!
Ella llovía en mí, en cada gesto,
pensamiento, deseo, sueño, y el resto.
Era lluvia finita y lluvia copiosa,
matinal y nocturna, activa…¡Qué cosa!
No me lluevas, maría, más que lo justo
llovizna de un momento, apenas susto.
No me inundes de tu líquido plasma,
¡No seas tan acuático fantasma!
Yo le decía en vano -ya que maría
cuanto más yo rogaba, más llovía.
Y chaparreando atroz en mi camino.
lo dejaba bañado en triste vino.
que no calienta pues el agua de lluvia
mosto es de ceniza, no de buena uva.
¡Lluviadera maría, lluviadona,
lluvinienta, lluvil, pluvimiedona!
Yo le gritaba:¡Pará! Y ella seguía lloviendo,
Charcos de agua helada iba tejiendo.
Y hubo tanta maría en mi casa
que la correntada creó alas
y un río se formó, o mar, no sé,
Sé apenas que en él me anegué.
Y cuanto más las olas me llevaban,
las fuentes de maría más lluviaban,
de suerte que con poco, y sin recurso,
las cosas prosiguieron su curso,
y aquí es el mundo mojado y sumido
bajo aquel siniestro y oscuro llovido.
Los seres más extraños juntándose
en la misma acuosa pasta quejándose
contra esa lluvia estúpida y mortal
catarata (jamás hubo otra igual).
Cantos anti-ad petendam se oyeran.
¡Nada! Las cuerdas de agua más enloquecieran,
y maría, canilla desatada,
más deja salir la correntada.
Los navíos sozobran. Los continentes
sucumben con todos los vivientes,
y maría lloviendo. Fue que a esa altura,
diluida y fluida la humana estructura,
y la tierra no sufriendo tal lluviencia,
se conmovió la Divina Providencia,
y Dios, piadoso y enérgico, bramó:
¡No llueva más, maría! - y ella paró.
Carlos Drummond de Andrade
Traducción: Silvina Elena Guala y Carles Tàvec
descubrí que era maría que llovía.
La lluvia era maría. Y cada pringo
de maría empapaba mi domingo.
Y mis huesos mojando, me dejaba
como tierra que la lluvia labra y lava
Yo era todo barro, sin verdura...
maría, ¡lluviosísima criatura!
Ella llovía en mí, en cada gesto,
pensamiento, deseo, sueño, y el resto.
Era lluvia finita y lluvia copiosa,
matinal y nocturna, activa…¡Qué cosa!
No me lluevas, maría, más que lo justo
llovizna de un momento, apenas susto.
No me inundes de tu líquido plasma,
¡No seas tan acuático fantasma!
Yo le decía en vano -ya que maría
cuanto más yo rogaba, más llovía.
Y chaparreando atroz en mi camino.
lo dejaba bañado en triste vino.
que no calienta pues el agua de lluvia
mosto es de ceniza, no de buena uva.
¡Lluviadera maría, lluviadona,
lluvinienta, lluvil, pluvimiedona!
Yo le gritaba:¡Pará! Y ella seguía lloviendo,
Charcos de agua helada iba tejiendo.
Y hubo tanta maría en mi casa
que la correntada creó alas
y un río se formó, o mar, no sé,
Sé apenas que en él me anegué.
Y cuanto más las olas me llevaban,
las fuentes de maría más lluviaban,
de suerte que con poco, y sin recurso,
las cosas prosiguieron su curso,
y aquí es el mundo mojado y sumido
bajo aquel siniestro y oscuro llovido.
Los seres más extraños juntándose
en la misma acuosa pasta quejándose
contra esa lluvia estúpida y mortal
catarata (jamás hubo otra igual).
Cantos anti-ad petendam se oyeran.
¡Nada! Las cuerdas de agua más enloquecieran,
y maría, canilla desatada,
más deja salir la correntada.
Los navíos sozobran. Los continentes
sucumben con todos los vivientes,
y maría lloviendo. Fue que a esa altura,
diluida y fluida la humana estructura,
y la tierra no sufriendo tal lluviencia,
se conmovió la Divina Providencia,
y Dios, piadoso y enérgico, bramó:
¡No llueva más, maría! - y ella paró.
Carlos Drummond de Andrade
Traducción: Silvina Elena Guala y Carles Tàvec
15.7.17
tpm
você, que me faz deletar postagens novas apenas postadas
postagens velhas que possam me lembrar o quanto são velhas
mensagens sem que eu fosse realmente destinatária
ou às vezes correntes em que eu era incoerentemente incluída
você, que me faz excluir fotos de toda e qualquer rede social
você, que me faz destruir recordações por não deixar restar nenhuma carta
você, que me faz odiar-me por tantas noites
você, que também te odeia
eu também te odeio
eu também te odeio
postagens velhas que possam me lembrar o quanto são velhas
mensagens sem que eu fosse realmente destinatária
ou às vezes correntes em que eu era incoerentemente incluída
você, que me faz excluir fotos de toda e qualquer rede social
você, que me faz destruir recordações por não deixar restar nenhuma carta
você, que me faz odiar-me por tantas noites
você, que também te odeia
eu também te odeio
eu também te odeio
13.7.17
segunda vez
En el acto ingenuo
de tropezar dos veces
con la misma piedra
algunos perciben
tozudez
Yo me limito a comprobar
la persistencia de las piedras
el hecho insólito
de que permanezcan en el mismo lugar
después de haber herido a alguien.
de tropezar dos veces
con la misma piedra
algunos perciben
tozudez
Yo me limito a comprobar
la persistencia de las piedras
el hecho insólito
de que permanezcan en el mismo lugar
después de haber herido a alguien.
Cristina Peri Rossi
12.7.17
11.7.17
Quando um ex-amor se casa
Parece bobagem, mas quando um ex-amor se casa, com outra pessoa, meu olho enche d'água.
Não de ciúme, inveja ou desafeto. Mas porque me transborda um impedimento já não mais disposto a suportar grades. Ou bolsas impermeáveis. A boda, como se sabe, é a celebração do amor, uma festa. E quando um ex-amor se casa, em alguma parte, eu me sinto casando também. Faz-se presente à face um pouco de dentro. O terno, o laço, o nó da gravata, a aliança. E incapacitada de poder abraçá-lo, felicitá-lo, e desejar que seja imortal, posto que é chama, a lágrima fornece o sal eterno, o sal sagrado, meu presente de casamento. O matrimônio, como se fia, é um tanto difícil de mantê-lo. Mas se fica um amor de ontem na lembrança, finca mais ainda o amor celebrado hoje. E escorre para todos os lados.
Não de ciúme, inveja ou desafeto. Mas porque me transborda um impedimento já não mais disposto a suportar grades. Ou bolsas impermeáveis. A boda, como se sabe, é a celebração do amor, uma festa. E quando um ex-amor se casa, em alguma parte, eu me sinto casando também. Faz-se presente à face um pouco de dentro. O terno, o laço, o nó da gravata, a aliança. E incapacitada de poder abraçá-lo, felicitá-lo, e desejar que seja imortal, posto que é chama, a lágrima fornece o sal eterno, o sal sagrado, meu presente de casamento. O matrimônio, como se fia, é um tanto difícil de mantê-lo. Mas se fica um amor de ontem na lembrança, finca mais ainda o amor celebrado hoje. E escorre para todos os lados.
10.7.17
libro de horas
Desde la ventana observo la plaza: a los plátanos
les quedan cuatro hojas exhaustas que no
se deciden a emprender el último vuelo. Cuatro
son también los días que cuelgan del calendario,
a punto para caer cuando nadie mire. Todo
acaba desprendiéndose y volviendo a tierra
con la fría ventada de la estación
desfavorable. El proceso es lento, casi
imperceptible. Hay que estarse noches enteras
acostumbrando la mirada a la quietud
antes de advertir cómo la vida pierde los pétalos,
pierde los días, pierde el oxígeno, pierde las aves,
pierde los cuerpos y pierde las respuestas. También los muertos
celebran la Navidad, sentados alrededor
de los juguetes. Tras la ventana pienso
en ellos, que es una manera de pensar en mí.
Y la vida pierde las hojas, indiferente
a todo, como un inmenso árbol caducifolio.
les quedan cuatro hojas exhaustas que no
se deciden a emprender el último vuelo. Cuatro
son también los días que cuelgan del calendario,
a punto para caer cuando nadie mire. Todo
acaba desprendiéndose y volviendo a tierra
con la fría ventada de la estación
desfavorable. El proceso es lento, casi
imperceptible. Hay que estarse noches enteras
acostumbrando la mirada a la quietud
antes de advertir cómo la vida pierde los pétalos,
pierde los días, pierde el oxígeno, pierde las aves,
pierde los cuerpos y pierde las respuestas. También los muertos
celebran la Navidad, sentados alrededor
de los juguetes. Tras la ventana pienso
en ellos, que es una manera de pensar en mí.
Y la vida pierde las hojas, indiferente
a todo, como un inmenso árbol caducifolio.
Gemma Gorga
9.7.17
escarcha
Es justo allí
a mitad de camino entre
el huerto desnudo
y el huerto verde,
cuando las ramas están a punto
de estallar en flor,
en rosa y blanco,
que tememos lo peor.
a mitad de camino entre
el huerto desnudo
y el huerto verde,
cuando las ramas están a punto
de estallar en flor,
en rosa y blanco,
que tememos lo peor.
Pues no hay región
que a cualquier precio
no elija ese tiempo
para una noche de escarcha.
que a cualquier precio
no elija ese tiempo
para una noche de escarcha.
Robert Frost
6.7.17
cirugía de invierno
Lo dicho queda, cala,
corroe la leve pulpa que otro construye a solas,
como en la fronda que el otoño ataca.
Porque el otoño seca las hojas
de manera bellísima:
deja en el aire las puras nervaduras,
ésas casi invisibles
en las que reparábamos apenas
y evapora esa verde sustancia que era,
para nosotros, hoja.
Así de pronto terminan los verdores.
Hay que arrastrar cadáveres amados
y consentir el lujo
de la infinita dilación indecisa
y el filo que mutila la voz, la tolerancia.
Ida Vitale
(puta poema)
corroe la leve pulpa que otro construye a solas,
como en la fronda que el otoño ataca.
Porque el otoño seca las hojas
de manera bellísima:
deja en el aire las puras nervaduras,
ésas casi invisibles
en las que reparábamos apenas
y evapora esa verde sustancia que era,
para nosotros, hoja.
Así de pronto terminan los verdores.
Hay que arrastrar cadáveres amados
y consentir el lujo
de la infinita dilación indecisa
y el filo que mutila la voz, la tolerancia.
Ida Vitale
(puta poema)
5.7.17
4.7.17
Impaciente
"El impaciente se ríe de sí mismo porque no aparece
lo real. Cuando se le aparezca, reirá?
La enloquecida por falta de mirada,
no de amor: de mirada, porque ser amado
es ser mirado, hoy por hoy, hay miradas,
se diría que es todo lo que hay. O nos miran
o morimos no mirados, sin ser vistos
en la vastedad que no distingue miradas,
ciudad o no ciudad, sin cuidados.
La mirada, imagen gen-
era, hería en los ojos, heráldica de casa real,
erinia, erinia, caza mayor."
Eduardo Milán.
(no hay mayor)
lo real. Cuando se le aparezca, reirá?
La enloquecida por falta de mirada,
no de amor: de mirada, porque ser amado
es ser mirado, hoy por hoy, hay miradas,
se diría que es todo lo que hay. O nos miran
o morimos no mirados, sin ser vistos
en la vastedad que no distingue miradas,
ciudad o no ciudad, sin cuidados.
La mirada, imagen gen-
era, hería en los ojos, heráldica de casa real,
erinia, erinia, caza mayor."
Eduardo Milán.
(no hay mayor)
3.7.17
Haja
Calma
Não fale mais que
Hoje, só faz o teu
Mesmo quando pareça
que nada acontece
que hoje é sempre
gastura
riso e lágrima
rojão e luto
teu tempo não é teu tempo
calma
que teu tempo vai chegar
Não fale mais que
Hoje, só faz o teu
Mesmo quando pareça
que nada acontece
que hoje é sempre
gastura
riso e lágrima
rojão e luto
teu tempo não é teu tempo
calma
que teu tempo vai chegar
2.7.17
Um animal passeia nas montanhas.
Arranha a cara nos espinhos do mato, perde o fôlego
mas não desiste de chegar ao ponto mais alto.
De tanto andar fazendo esforço se torna
um organismo em movimento reagindo a passadas,
e só. Não sente fome nem saudade nem sede,
confia apenas nos instintos que o destino conduz.
Puxado sempre para cima o animal é um ímã,
numa escala de formiga, que as montanhas atraem.
Conhece alguma liberdade, quando chega ao cume.
Sente-se disperso entre as nuvens,
acha que reconheceu seus limites. Mas não sabe,
ainda, que agora tem de aprender a descer.
Leonardo Froes
Arranha a cara nos espinhos do mato, perde o fôlego
mas não desiste de chegar ao ponto mais alto.
De tanto andar fazendo esforço se torna
um organismo em movimento reagindo a passadas,
e só. Não sente fome nem saudade nem sede,
confia apenas nos instintos que o destino conduz.
Puxado sempre para cima o animal é um ímã,
numa escala de formiga, que as montanhas atraem.
Conhece alguma liberdade, quando chega ao cume.
Sente-se disperso entre as nuvens,
acha que reconheceu seus limites. Mas não sabe,
ainda, que agora tem de aprender a descer.
Leonardo Froes
1.7.17
Cautiverio
Esta cueva es mi casa
esta lentitud y esta métrica
para caminar entre las cáscaras
es mi diálogo con el bosque
mi forma de no olvidar el regreso.
El sendero original estará lleno de maleza
Habrán levantado una fábrica, un templo
una antena provisoria
que baje el mundo a las alturas
Soy la bestia en un rectángulo
que podría ser la habitación de un hombre
donde entran él y su cama
y con suerte una silla
Dar el zarpazo a la mosca atraída
por la corpulenta pasividad y el encanto
de la antigua destreza
Pensar en ella como en el salmón
que se entrega manso
lejos del chorro
Pero es tan solo una mosca
disputándome el azúcar
que un niño nos arroja.
Llueve en esta jaula
comida por los homigueros
El agua del hipopótamo se ha llenado de hojas
Una tortuga ha quedado suspendida
en un alto del cemento
Quien dice que los animales no sufren senilidad
extrañeza, estreñimiento?
Qué hace a este lugar distinto a un hospital
o a una cárcel?
Quien puede asegurar
que esa tortuga a la orilla del piletón
como ese viejo recostado en el arco del geriátrico
no esperan
a costa de ahogarse
la corriente milagrosa
que los devuelva al mar.
Laura García del Castaño
esta lentitud y esta métrica
para caminar entre las cáscaras
es mi diálogo con el bosque
mi forma de no olvidar el regreso.
El sendero original estará lleno de maleza
Habrán levantado una fábrica, un templo
una antena provisoria
que baje el mundo a las alturas
Soy la bestia en un rectángulo
que podría ser la habitación de un hombre
donde entran él y su cama
y con suerte una silla
Dar el zarpazo a la mosca atraída
por la corpulenta pasividad y el encanto
de la antigua destreza
Pensar en ella como en el salmón
que se entrega manso
lejos del chorro
Pero es tan solo una mosca
disputándome el azúcar
que un niño nos arroja.
Llueve en esta jaula
comida por los homigueros
El agua del hipopótamo se ha llenado de hojas
Una tortuga ha quedado suspendida
en un alto del cemento
Quien dice que los animales no sufren senilidad
extrañeza, estreñimiento?
Qué hace a este lugar distinto a un hospital
o a una cárcel?
Quien puede asegurar
que esa tortuga a la orilla del piletón
como ese viejo recostado en el arco del geriátrico
no esperan
a costa de ahogarse
la corriente milagrosa
que los devuelva al mar.
Laura García del Castaño
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