27.7.17

Wireless

o medo de se perder, mundo
punk, desenhando à faca na água suas dúvidas, você
conversa consigo pelo espelho oxidado em terceira
pessoa, rasurando à unha o nitrato, comendo grama
por grama o retrato que lhe vem na prata
quando rói os dedos entre os campos
minados, o medo
de se perder [“converse comigo”], nada
mais pode ser dito depois
que o chão desaparece, mundo
junkie, jungle, os hipopótamos são os únicos
que atravessam a rua sem esmagar
as flores no asfalto, linces e gazelas
não, você está
solto no espaço e nenhum céu
desaba, antes
permanece imóvel em aparência no instante
em que você escorre a esmo pelas trilhas
e deleta arquivos antigos [“converse
comigo”], menos laços, odiar
as lembranças, o medo
de se perder, mas é justo
pra onde você
vai.
Nuno Rau