jogar o que precisa ralo abaixo
permanecer um pouco mais
com ela debaixo das unhas
mas antes
sentir o chamado
estar em frente à mesa
enfrentando um texto
o que quer que seja
cutucando as espinhas
os folículos esgarçados
a superfície invadida e exausta
chegado o momento
do preparo da pasta
algo cremoso e frio
algo quente e granulado
com fruta e propriedades
que costumam ser consumo
do lado de dentro
lava-se o rosto
se olha nos olhos do espelho
e se encara sem parar
pra pensar na mediocridade da cena
da fracassada exigência de livrar-se
lambuza-se com vera vontade
deixando apenas os buracos da cara de fora
respira-se menos e espera
com um tolo anseio de reparo
volta-se ao texto
já sabendo que não poderá voltar integralmente a ele
não funciona a atenção plena
quando se planeja escrever e fazer
uma limpeza de pele
ao rever-se no espelho
esfrega-se a face com os dedos
uma lenta e violenta leitura em braile
e os grãos esfolam o que parecia
ou realmente era encravado
fecha-se os olhos
respira-se ainda menos
agora sim
certificar-se que dessa vez foi
ralo abaixo
e o espólio debaixo das unhas
sempre o desejo de tomar água
o reflexo interno do arremate
sensação similar a lavar o banheiro
e querer se banhar em seguida
respira-se finalmente fundo
com a firmeza do corpo
de manter o copo ante a gravidade
da cozinha direto à mesa
e, vida nova em folha,
volta-se ao texto
repetir semanalmente
ou cada vez que lembra dela
torna-se um hábito oblíquo
de pensar no que resta.
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