um corpo, quando ainda é homem
movimenta as pernas para elevar-se
nas escadas finais do prédio mais alto
que sua história lhe permitiu conhecer
enquanto em seu rosto se nota a certeza
uma das mãos busca o celular no bolso da calça
encontrando-o no penúltimo lance de degraus momento
em que os olhos agora nunca tão abertos já se deparam
com o terraço e avistam a claridade do parapeito
o abismo a faixa de partida
e disca um número de memória aquela
que será a última chamada
de sua vida finalmente
um de seus ouvidos se atenta
em distinguir o tom da espera
seus pés se encaminham ao destino que resta no instante
em que um telefone toca em qualquer parte
e passando a porta enxerga
mais alguém ali
fumando
distraído
e o que era pra ser
podia ainda assim ter sido
mas era outro
o desejo renovado
pedindo um cigarro
e se afogando em prantos
ajuda o homem
que não quis mais ser corpo
faz
sua história
de outra maneira
antes que alguém atenda.
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