7.2.17

Não vamos ao enterro do amor
Não vamos
Não vamos ao velório não há velas suficiente
não há horas não há lágrimas que me façam
acreditar que tal falecimento seja possível
Não vamos sentar na poltrona confortável ao lado do morto
que me faça ter vergonha de estar esperando sentada
a que me sirvam condolências de estranhos
familiares e parentes solitários que esperaram a vida inteira
por este momento
aquele segundo de vitória, eu reconheço, de eu vim, vi e venci, eu fui mais forte
que o amor
sempre tão débil e prepotente esse seu viver
não vamos, já disse, não vamos
não vamos receber abraços frios de pessoas frias
nem abraços quentes de pessoas quentes que deveriam estar em outro lugar
que gostariam de estar em outro lugar
me recuso a acreditar que deixaram de ir
para vir até aqui
por que? por que se ele nunca te amou, se ele nunca
por que
não vamos
não vamos esperar as moscas chegarem
não vamos esperar mais flores
não vamos aumentar o ar condicionado aumentar o chumaço de algodão nas narinas aumentar o tule
não vamos ouvir a missa não vamos mais ouvir um só eu sinto muito
por sua perda
não queremos mais ouvir um pio
não vamos nos agachar nos rebaixar a isso tomar um punhado de pedras
e terra não vamos selar o selado
atire você a primeira pedra
não vamos chorar
pelo leite derramado
dar outros passos em direção ao caixão e dizer adeus
não nos despediremos
não
eu digo que não vamos
eu me recuso a dizer fim.