5.2.17

Fernanda

Para se viver no presente, e para que esse presente contenha alguns germes de futuro,
 é preciso esquecer.
 Não digo perder a memória, mas seleccioná-la, distanciá-la, acomodá-la à necessidade
 que todos temos de
 saborear o presente, de manter indemnes as possibilidades de novos começos. Mas
 quando a memória nos
 cai em cima como um dilúvio, quando o passado nos submerge e afoga, estamos perdidos.
 Sobrevivemos
 entre sombras, somos almas penadas, entregues ao desespero e à cólera. Vivemos no inferno,
 pois inferno é
 a ausência de quem amamos.
É disso que este livro trata. Disso e da passagem da saudade à solidão.

Ernesto Sampaio