17.9.17

Optimismo

“Abrumado por el tabaco y la cultura
y convertido en un engaño por su propia clase
estaba esperando la revolución
por la desnuda, terrible acción de los otros en la calle.
Pero detrás de los cristales
a cubierto del viento social donde toda culpa
entra en crisis con sus razones podridas,
resolvió que el cambio acontecía en las pequeñas mutaciones
permanentes del cielo y el polvo,
en el giro de la cuchara en la taza de té,
en las decepciones periódicas del hígado,
en la muerte de papá y de las moscas”.“Abrumado por el tabaco y la cultura
y convertido en un engaño por su propia clase
estaba esperando la revolución
por la desnuda, terrible acción de los otros en la calle.
Pero detrás de los cristales
a cubierto del viento social donde toda culpa
entra en crisis con sus razones podridas,
resolvió que el cambio acontecía en las pequeñas mutaciones
permanentes del cielo y el polvo,
en el giro de la cuchara en la taza de té,
en las decepciones periódicas del hígado,
en la muerte de papá y de las moscas”.
“Abrumado por el tabaco y la cultura
y convertido en un engaño por su propia clase
estaba esperando la revolución
por la desnuda, terrible acción de los otros en la calle.
Pero detrás de los cristales
a cubierto del viento social donde toda culpa
entra en crisis con sus razones podridas,
resolvió que el cambio acontecía en las pequeñas mutaciones
permanentes del cielo y el polvo,
en el giro de la cuchara en la taza de té,
en las decepciones periódicas del hígado,
en la muerte de papá y de las moscas”.
“Abrumado por el tabaco y la cultura
y convertido en un engaño por su propia clase
estaba esperando la revolución
por la desnuda, terrible acción de los otros en la calle.
Pero detrás de los cristales
a cubierto del viento social donde toda culpa
entra en crisis con sus razones podridas,
resolvió que el cambio acontecía en las pequeñas mutaciones
permanentes del cielo y el polvo,
en el giro de la cuchara en la taza de té,
en las decepciones periódicas del hígado,
en la muerte de papá y de las moscas”.

Giannuzzi

16.9.17

A vida moderna

Sempre tenho tanto medo        de perguntar        a verdade
como        o que foi        qual doença        sofreu?
quando foi        eu sei        quais os pêsames
conto até        a postagem feliz        outra notícia        outra foto        festa
há três ou quatro dias        que partiu
será que        o algoritmo mostrou
isso de dois        três        meses
agravou        hospital         família        amigos
três ou quatro anos desde        que o vi
a máquina me mostra        fim de ano        frio
mercado natalino        quentão para dois        uma esquina perdida
ruas londrinas         fim de semana
três ou quatro dias em        Londres        desde então
sem tempo        com pena        eu soube
um amigo        a janela        vinte horas antes de ir embora
estava doente        outra doença        eu acho
tinha tantos        e-mails a mandar na        cabeça
sempre tenho tanto         medo        de saber a verdade
Rob Packer

15.9.17

El equilibrio

Así esta mañana
bebo en un dedo
de tu mano
y nado en un hueso
de tu brazo
en un sol desollado con
cabeza de muerto
Así esta mañana pesco
el pez inseparado
que separa el
cerebro
Peyote de la flor
hambrienta
que se come la primera
mosca
Yo me baño en ti
y en el tiempo
Yo pesco en ti y en tiempo
Yo bebo en ti y en tiempo
Yo florezco al primer
equilibrio

Serge Pey

14.9.17

Apesar de não originais, se bastavam
tantas vezes decepcionados pela previsível repetitividade do mundo
hoje se surpreendiam com a textura de uma pele
ora, todas as peles não são apenas células mortas?
eles já não enxergam o contato entre elas ou o que as agarram ainda
a outras camadas mais profundas
mas de fato, também não há nada de original nelas
uma pele, um pouco queimada, da mesma cor que tantas outras
com pelos e pintas e pontos possivelmente preocupantes
além de pequenas cicatrizes, marcas de obstruções de poros e picadas
apesar de não originais, velhos e cansados
e necessitados de uma camada não muito fina de vidro, lente de aumento
armação de aço que até começara a perder a tinta
enxergam essa pele
como se nunca houvesse nenhuma antes
pele retida por essas retinas, como se nunca houvera nenhuma imagem
e ainda que datassem mais de quarenta anos de vida,
luz, sombra, poeira e lágrimas,
aquela pele ademais histórica
e impregnada de memória
e atos falhos de outras miradas
refúgio de alguns corpos e comida para ácaros,
recebia o presente de ser admirada, recém descoberta
pelos olhos deste homem.

13.9.17

tenho medo...

tenho medo de matar
as plantas
construí pra elas um pequeno deck
do lado da janela
mas talvez o sol 
não seja suficiente aqui
explico pra elas que a palavra
“mudança”
em português
tem um sentido duplo
concreto e metafórico 
que roland barthes diria
que isso é uma sorte
uma “boa disposição”
essa mesma que nós
elas e eu
devemos ter 
os meninos sobreviverão 
o gato sobreviverá 
mas elas
elas precisam me ajudar

Paloma Vidal

12.9.17

“De verdad esto no nos lleva a ningún lado. 
Si supieras lo que de verdad vale el tiempo no lo usarías para esto”

Samanta Schweblin

7.9.17

Manter

Que difícil que é pedir
um ato de presença.
Um ato que dure depois da representação.
Um homem performa de vestido longo
diante de duas pessoas
que já disseram muito.
Agora se observam marotos,
tímidos e emocionados.
Podia ser teatro da baixa Augusta,
podia ser ficção de escritores personas
(publicada pela Patuá),
mas é real. Um matrimônio
sem parcimônia. Também é político,
mas sem golpe dessa vez.
Em um presente que muda tanto
e tantas vezes,
o que fazer para manter?
A palavra, o silêncio, a presença. Se intacto
pouco permanece,
será a velha receita do liberalismo,
laissez-faire,
que dá jogo?
Eu não sei. Só sei que manter
é mais difícil que vencer
- sozinho morreu o dono
do banco imobiliário -
Cartas de sorte ou revés
aparecem com ainda mais frequência
(cardíaca)
Mas desejo que mantenham
a chama acesa, a surpresa
o amor com respeito
o convênio médico
o fair play e a ternura.


5.9.17

"Somos esto que somos.
No abandonamos nada en el camino.
Es el camino el que acaba cuando quiere."

Miguel Gaona

4.9.17

Fantasma Q & A

Q     como você sabe que é um fantasma?
A      porque eu deslizo
Q      se parece com dormir?
A      se parece com ceifar
Q      você se sente velho ou jovem?
A      tempo e espaço estão errados
Q      você come? há comida desse lado?
A      o deslizar afeta os meus nervos
Q      e sobre o lá em cima e o lá embaixo?
A      são só vetores
Q      existe um idioma?
A      como acha que eu falo com você
Q      quer dizer uma gramática?
A      o verbo
Q      isso é uma contradição?
A      não não é
Q      só testando
A      eu já tive esse sonho antes?
Q      mas você também está acordado
A      eu me contradigo o tempo todo
Q      você vê pessoas? você pode me ver?
A       se você fechar seus olhos
Q      existem estados de espírito?
A      as extremidades estão congelando
Q      e isso é bom?
A      sim
Q      aí está muito cheio?
A      você está brincando?
Q      há outros fantasmas neste lugar?
A      a maioria dos objetos aqui são fantasmas
Q      sério
A      você já esteve em Paris?
Q      não
A      Paris é um fantasma
Q      não não é
A      você já leu Thomas Pynchon?
Q      nós estamos mudamos de assunto
A       um fantasma não tem ângulos retos
Q      como você descansa?
A      nadando
Q      quem é aquele homem?
A      ele faz os zeros
Q      você disse mesmo nadando?
A      eu vi você no mercado uma vez comprando maquiagem no meio da noite
Q      não era eu
A      foi na mesma noite do piso molhado
Q      não
A      você não pode colocar um até que tire outro
Q      um que?
A      zero
Q      seu cabelo vai seguir crescendo?
A      sim mas são maçãs

***

GHOST Q & A


Q      how do you know you’re a ghost
A      it’s the sliding
Q      is it like sleep
A      like scything
Q      do you feel old or young
A      space and time are wrong
Q     do you eat, is there food
A      the sliding affects my nerves
Q      what about up and down
A      just vectors
Q      do you have language
A      aren’t I talking to you
Q      I mean grammar
A      the verb
Q      that is a contradiction
A      no it isn’t
Q      just testing
A      have I had this dream before
Q      yet you’re also awake
A      I contradict myself all the time
Q      do you see people can you see me
A      if you close your eyes
Q      what about moods
A      the edges are freezing
Q      is that good
A      yes
Q      is it crowded
A      are you joking
Q      are there ghosts in this room
A       most of the objects here are ghosts
Q      really
A      have you been to Paris
Q      no
A      Paris is a ghost
Q      no it’s not
A      have you read Thomas Pynchon
Q      but we digress
A      a ghost has no right angles
Q      how do you relax
A       swimming
Q       who is that man
A       he does the zeroes
Q      did you say swimming
A      I saw you at Saks once buying makeup in the middle of the night
Q      wasn’t me
A      it was the night the counter flooded
Q      no
A      you can’t put one in till you take one out
Q      one what
A      zero
Q      does your hair keep growing
A      yes but it is apples

Anne Carson
Tradução: Ellen Maria

3.9.17

Ah, a frescura...

Ah a frescura na face de não cumprir um dever!
Faltar é positivamente estar no campo!
Que refúgio o não se poder ter confiança em nós!
Respiro melhor agora que passaram as horas dos encontros.
Faltei a todos, com uma deliberação do desleixo,
Fiquei esperando a vontade de ir para lá, que eu saberia que não vinha.
Sou livre, contra a sociedade organizada e vestida.
Estou nu, e mergulho na água da minha imaginação.
É tarde para eu estar em qualquer dos dois pontos onde estaria à mesma hora,
Deliberadamente à mesma hora…
Está bem, ficarei aqui sonhando versos e sorrindo em itálico.
É tão engraçada esta parte assistente da vida!
Até não consigo acender o cigarro seguinte… Se é um gesto,
Fique com os outros, que me esperam, no desencontro que é a vida.

Álvaro de Campos

2.9.17

Diante

Dizem que todas as lembranças 
e todas as células dos nossos corpos 
couberam na cabeça de um alfinete
antes de se misturarem na luz 
quando, ao redor de nós, ferro e ouro
se fundiram pela primeira vez.
Às vezes me lembro do calor,
da parte de nós que chamejava 
na noite e penso na distância,
no vento que despenteia nosso 
pelo na pele e levará nossa matéria 
daqui. Mas ainda que seja verdade,
que de novo seremos fogo nas estrelas,
segure o que puder de mim
para nos proteger no vento
mais à frente.

Rob Packer

1.9.17

sábado depois de sexta

esconder o rosto das manhãs
e as gemas dos dedos
quando a noite se faz clara
depois virar-se no travesseiro
e dormir com o real
o viço e o riso leve,
a barganha de não levantar
quando as vassouras
já estão trabalhando.


Ellen Maria