Na
lista das coisas que mais gosto de fazer de vez em quando é procurar
apartamento. É bem difícil fazer com que a agenda da corretora de imóveis se encaixe
com o seu, fazer com que o porteiro do prédio abra a porta ou que o dono do
apartamento esteja disponível para liberar a chave. Ainda tem aqueles que só
permitem que faça visitação em horário comercial, hora aquela que você também
está trabalhando, mas tudo bem, quando o contrato de um aluguel está por vencer,
a gente dá um jeitinho de fugir mais cedo, entrar mais tarde e vai procurar
apartamento. Eu, você, a gente... muita gente já passou por isso nessa vida.
O
legal de procurar um apartamento pra morar está desde a compra do jornal, a
compra da caneta vermelha para circular aquele classificado que te interessa, manter
o telefone do lado, fazer ligações, perguntar preços, formas de pagamento,
quantos cômodos, se tem garagem, quanto está o condomínio, se o local é
iluminado à noite, se está vazio ou mobiliado, etc., etc.
Aí
você vai ver o apartamento. Ver se tem luz, se tem gás encanado, se tem
chuveiro, armário embutido, pia, torneira, quantas tomadas, ventilador de teto,
infiltração, chaves nos quartos, nos banheiros, varal na área de serviço, se
está pintado, cheirando mal, se a descarga funciona, se tem proteção nas
janelas, trilho pra cortina, marcas de prego, rodapé, carpete, taco de madeira
ou piso frio na sala, buraco para ar condicionado, box no banheiro, lâmpadas
queimadas.
Que
nem filme: o corretor vai dizendo as qualidades e as peculiaridades do
apartamento e do prédio e você vai escutando, fazendo que sim com a cabeça.
Depois, a voz vai sumindo, ficando em segundo plano, enquanto sua cabeça deixa
de acenar e começa a pensar, a desenhar maquetes de arquiteto e planos originais
de decorador. Aqui vai aquele quadro que ganhei de Natal, ali entra a mesa de
jantar, aqui fica bom o guarda-roupa, ali entra a máquina de lavar. Enquanto o
corretor fala que este apartamento vai sair rapidinho, porque aquela zona é bem
procurada e o apartamento está bem localizado, você vai pensando onde ficaria o
sofá, a cama, se vai poder comprar aquele sofá-cama pra hóspedes, se vai ter
hóspedes, se vai finalmente tirar a TV da sala para ligá-la menos, ou se cabe
um tapete, que você nunca teve, mas sempre quis ter.
Vai
pensando em móveis novos, sabendo que não vai dar pra comprar nos três
primeiros meses, por causa do seguro fiança. Vai pensando em contas. Vai
pensando nas reuniões com amigos, que você nunca tem tempo de vê-los. Vai
pensando se poderia pintar uma parede de azul ou verde, ou ao menos fazer uma
textura. Se colocar o micro-ondas num suporte ou em cima do armário. Se melhor
luz amarela ou fria.
É
preciso dar a resposta em cinco dias úteis. Se não, tenho que deixá-lo ir, que
encontre seu dono. Mas essa sala ficaria boa com meus velhos móveis, poderiam
estar de uma forma “x” e quando eu quisesse fazer limpeza em casa e mudar tudo
de lugar, ainda tem a forma “y” e “z” que ficariam boas. Quais mesmo as
vantagens e as desvantagens deste apartamento? É débito em conta, boleto ou
tenho que ir todo mês à imobiliária? Fiador ou seguro fiança?
É
preciso ver outros apartamentos. Em prédios de três andares sem elevador, em
prédios de dezoito andares com piscina, prédios de nove andares com sala de
jogos e playground, prédios de cinco andares com garagem privativa, prédios de
treze andares com coleta seletiva de lixo, prédios em subidas, descidas,
avenidas, esquinas, ruas desertas, ruas que enchem, prédios do lado de uma
escola, de uma academia, encima de um bar, de um cabeleireiro, longe do meu
trabalho e mais ou menos dez minutos caminhando.
Enfim,
contrato assinado. Definitivamente, procurar E encontrar um apartamento estão
na lista das coisas que mais gosto de fazer. Chave na mão. E a sensação
maravilhosa de entrar em seu novo apartamento. Vê-lo vazio te esperando ansioso
para novas histórias. Serei feliz ali? Chorarei muito? Cozinharei para quantos
amigos? O que será que as paredes poderão contar depois de mais um contrato de
trinta meses? E o que será que as paredes me contarão dos antigos moradores?
Haverá fantasmas presos ali? Será que foram felizes? Fecho a porta feliz.
Daí,
chego a minha antiga casa, aquela que o contrato está finalizando, onde tenho
que me despedir em uma ou duas semanas e me lembro: agora vem uma das coisas
que menos gosto de fazer: empacotar tudo para fazer a mudança.
Ellen Maria
Ellen Maria
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