Obrigada por uma vida não perfeita. Obrigada por me fazer ter dor de barriga cada vez que vou dormir na casa de um cara que estou afim. Por fazer a pintura da unha descascar em menos de um dia. Por travar a internet no momento que recebo um email importante. Por fazer a luz acabar durante o shampoo ou depois que acendi a última vela para o santo. Por fazer dos dias de sol os primeiros depois que todas as roupas estão limpas e fazer os dias de chuva quando já não há mais camisetas limpas. Por me deixar dramatizar todos os fracassos enquanto me olham com cara de idiota. Obrigada por sobrar dinheiro quando não tem nada de legal para se fazer e faltar moedas quando o mundo inteiro está de festa, há liquidações por toda a cidade e todas as melhores bandas vieram tocar logo aqui. Pelo temporal sem guarda-chuva. Pelos pés cansados e muito caminho pela frente. Pela dor de dente na praia. Obrigada pela faca afiada no meu dedo e pela faca sem ponta quando eu preciso cortar uma carne. Pelas tantas ligações por engano. Obrigada por me deixar carente sempre que não devo, sempre que quem está ao lado odeia sentimentalismos ou é um completo estranho. Por tantos desencontros, foras e atrasos. Por me dar dor nas costas no dia seguinte daquela massagem gostosa, porém desnecessária. Por me dar dor de cabeça e cólica no dia da prova, sem atestado médico. Obrigada por me fazer inspirada de pé no metrô lotado, e quando eu chego em casa, esquecer o poema completamente. Por me fazer chorar cortando cebolas. Por me dar fome na hora da missa. Obrigada por me fazer sofrer tão pouco.
Ellen Maria
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