4.7.20

Runkeeper

Passei a correr todos os dias
a reparar na mudança das cores da grama
do parque que seca até esturrica
de junho a outubro
no meio do cerrado
Passei a passar sempre às avessas
da direção das bicicletas
pensando por qual caminho será
que elas voltam
A avistar os ninhos dos quero-queros
os montes das corujas
as crias das curicacas
e os carcarás
que caçam qualquer coisa
mas não criam caso
nem quando vou voando entre eles
nem quando voo cansada
Passei a notas as árvores
pelo desenho de suas sombras
na pista, o sol pela quantidade de suor
que escorre, o vento
pela velocidade que ganho ou perco
numa reta, o quanto de atrito meço
pelo pace que me avisam meus pés nas subidas
e nas descidas que sempre permito tirar vantagem
da gravidade
Passei a descansar no final dos quilômetros
deitada no gramado sem preocupação
quanto às formigas que estão embaixo ou aqueles que ainda treinam
e me vem de cima, corpo estatelado feito estrela
de cinco pontas na terra
Eu só fecho os olhos e relaxo
E neste momento, só vejo o dentro
observo meu próprio céu
e centro
e às vezes também
partes suas
suas pernas, seu sorriso
seus olhos pequenos
aquilo que eu conheço
meu outro parque
onde não preciso ir correndo
porque cada curva, centímetro
superfície, pedaço
passa a ser o início
e a minha linha de chegada.

Para L.

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