26.1.16

Homem-hombre

"Una vez quise ser hombre
para casarme con mi hermana
que ya lleva tres divorcios.
Para amar a mis amigas
que en cada relación mueren un poco.
Quise ser hombre
para fecundar sus vientres,
no de hijos, sino de poesía,
vino tinto, relojes parados,
unicornios azules.
Para decirle a Josefina
cuanto admiro su forma de entregarse.
Para escribirle a Rosi
esas cartas que no llegan nunca.
Llamar por teléfono a Pilar
que espera tantas tardes.
Llenar de caricias prolongadas
el espacio de Beatriz,
que vive sola
y le tiene miedo a los temblores.
Quise ser hombre,
para amarlas a todas y no sentir más
el frío de sus lágrimas en mi playera,
ni mirarlas apagarse,
ni presenciar sus funerales
en sus ataúdes de treinta años.
Quise ser hombre
para invitarlas a volar el periférico,
a bailar descalzas porque el América
le ganó al Guadalajara,
para llevarlas del brazo hasta una cama
donde no tengan que fingir orgasmos.
Pero soy mujer y, aunque puedo
compartir con ellas la poesía,
escribirles cartas,
llamarlas por teléfono,
llenarlas de caricias prolongadas,
volar el periférico,
bailar descalzas,
secar su llanto,
tocar su alma...
No es suficiente.
No les alcanza.
Porque, desde niñas, aprendieron
que los hombres son un premio al que hay que amar,
sin importar si ellos las aman."

**

Ao menos uma vez queria ser homem
para me casar com a minha irmã
que já passou por três divórcios
Para amar minhas amigas
que em cada relação morrem um pouco.
Queria ser homem
para fecundar seus ventres,
não de filhos, mas de poesia,
vinho tinto, relógios parados,
unicórnios azuis.
Para dizer a Josefina
o quanto admiro sua forma de se entregar.
Para escrever a Rose
essas cartas que não chegam nunca.
Ligar para o telefone da Pilar
que espera tantas tardes.
Encher de carícias preguiçosas
o território de Beatriz,
que mora sozinha
e que tem medo de terremotos.
Queria ser homem
para amar a todas e não sentir mais
o frio de suas lágrimas na minha blusa,
nem vê-las apagar
nem presenciar seus funerais
em seus caixões de trinta anos.
Queria ser homem
para convidá-las a voar por aí,
a dançar descalças porque o Cruzeiro
ganhou do Galo,
para levá-las pela mão até uma cama
onde não tenham que fingir orgasmos.
Mas sou mulher, e ainda que possa
compartilhar com elas a poesia,
escrever cartas,
fazer chamadas,
enchê-las de carícias preguiçosas,
voar por aí,
dançar descalça,
secar seu pranto,
tocar sua alma...
Não é suficiente.
Não lhes alcança.
Porque desde pequenas aprenderam
que os homens são um prêmio ao que há de amar,
sem importar se eles as amam."


Rosa María Roffiel
Tradução: Ellen Maria

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