12.6.15

Mitmit

Agora somos dois. Nem tão livres nem tão presos. Há alguma coisa que nos liga e outra que nos deixa a vontade para voar sozinho. Não há obrigações, nenhum de nós precisa prestar contas ou dizer para onde vai. Mas ainda não atravessei a rua sem querer ligar e chamá-lo para atravessar a rua comigo. Não há juras nem promessas. Há confiança. Queremos testemunhar a vida um do outro, e não só isso: queremos ser cúmplices, ser comparsas amigos. Não há contrato. Não temos que seguir regras ou fazer coisas cínicas para agradar o outro. Não temos que necessariamente dividir as contas. Sabemos pouco um do outro, e acho que se ficarmos cinquenta anos juntos, continuaremos sabendo pouco um do outro, Talvez daqui um tempo eu saiba o que ele vai dizer antes mesmo de pensar, talvez eu saiba completar uma piada dele ou saiba qual lado da cama ele prefere dormir, mas conhecê-lo mesmo, isso já é mais complexo. Se vai durar para sempre, não sabemos. E o que é para sempre? Ontem mesmo fui parar no hospital e pensei que ia morrer. Ele ficou preocupado, mas está tudo bem agora.

Ellen Maria (2009)

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