(para Djanira e Elza)
Qual flor
desperta cedo
e sem sair do lugar
perambula por aí
respirando a curiosidade
dos que velhinhos
veem tudo como a primeira
e a última vez
Depois segue
recordando a vida
crianças pequerruchas
que se encondem debaixo da saia
da mãe e do pai
sentem medo
mas saltam no pescoço
agarrando sonhos
recolhendo os trapos e as roupas
pedaços de traumas
estendidos no varal
Caminha pela sala
o campo verde
lagos
busca o sol
dá a volta ao mundo
sem quase sair do eixo
girassol
Depois esquece
vegeta vendo televisão
repete qualquer coisa
sobre o artista da novela
parece que se alimenta de luz
pergunta sobre o que vai ter no almoço
e come pouco
Sofre arrancando os lábios
toma os remédios
morde com medo de morrer
sofre mastigando os dentes
sofre devorando o medo
e às vezes vomita
e briga com a morte
murcha
se banha vagarosamente
acariciando os infinitos lábios
que seu corpo enrugado construiu
escala montanhas com os dedos
a pele fina das pétalas
se perfuma
e cheira as costas da mão alheia
que lhe ajuda e lhe beija
veste algodão e agradece a noite
é hora das lágrimas escorrerem pela terra
hidratando os corações-sementes
dorme e sonha com os netos
imaginários
e algum fantasma
Parece que vai viver para sempre
e vai.
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