30.3.15

A vida apenas

Não posso com essa falta de lirismo
que tampouco é libertação
com essa falsa presença
essa ausência de ritmo
Estou farta
exausta do silêncio desmedido
da pouca poesia que se une
à vida
Não andamos de mãos dadas
Nunca vestimos semi-deuses
mas esse comedimento de riso
de choro, de vocábulo
está acabando comigo
Nem manuel nem carlos
eles estão paralisados
eles estão dormindo
nem os contadores e os engravatados
esses estão fora de si
ao pé da fogueira acesa
tabela caduca de co-senos
estão todos mortos
A noite costuma dissolver os homens
(as vozes se confundem)
O presente é tão grande
e eu me perdendo em palavras
as lembranças escorrem
confissões patéticas
Quero suspiros ao anoitecer
quero entorpecentes, músicas na sacada
a enorme realidade
Não serei a poeta de um mundo
não vivido
quero ser raptada por um serafim
de carne e osso e sem asas
e levada para uma ilha
depois cobri-lo no inverno
e pagar as contas
Estou presa à uma grande esperança
às minhas mãos
e meu coração de dez metros.
Esta não é uma carta suicida.
Não adianta morrer.
Espero penetrar surdamente
a superfície intacta.
Há de amanhecer.
Há de amanhecer logo.

Ellen Maria

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