13.1.15

Granos del real

Aqui todos falam inglês melhor do que eu
todos já fumaram mais
usaram mais drogas
leram mais de literatura beat
e de literatura mexicana, melhor nem comentar.
Aqui ninguém me chama de El
porque aqui El significa outra coisa
todos sabem de memória poemas inteiros
e declamam primeiros versos de olhos abertos
quase sem pensar, sem precisar revolver documentos nos escafandros da memória
todos parecem se recuperar facilmente de corações partidos
e entendem a diferença entre Ginsberg e Bukowsky
e seus respectivos corações partidos
todos já participaram de oficinas e deram aulas
com ou sem drogas, entendem que a vida é dura
as vezes, passam dias sem voltar para casa
e sabem tudo sobre a vida sórdida que a rua pode oferecer
já participaram de festas infinitas, orgias históricas
bebedeiras que acabam em histórias que todos se lembram dos detalhes por mais bêbados que puderam estar
não voltam pra casa porque estão exatamente onde querem estar
guardam poemas inteiros numa folha de papel de seda na carteira
e guardam segredos em olhos úmidos trocados e nunca reveláveis
todos parecem ser indestructíveis ao mescal e o tomam por toda a noite
falam de miles de coisas sem nunca tocar naquilo que já sabem
o desencanto e o sem-sabor está presente mas fica pra depois
sempre sobra a prova da resistência corporal
todos parecem ser intactos e acredito que são
yo sin embargo me siento débil
extranjera entre tacos y todas las palabras que no son dichas
Em DF faz um frio dos diabos
e pareço estar entre eles
aqueles que pensam muito e me contam menos do que preciso para me sentir apenas numa zona governável.

Ellen Maria
DF jan/2015

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