22.5.13

Depois de Clarice

Me cansei desse teu lirismo que não liberta
Eu gosto de poesia mas na tua
não vejo nada que arte pela
arte ainda que trate
de mim.

Anda a procurar algo mais
que a tua voz que ecoa
no ouvido de todos/todas aqueles/aquelas
que te amam/te odeiam.

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Quero continuar lendo
as revistas que me revelam
na sala de espera
do dentista.

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Eles não me fazem nada
você também não
eles não sabem de nada
você só sabe me dizer não.

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teu perfume eu sinto
nas ruas no trem na faculdade no shopping nas lojas nos homens
no ônibus nas festas nos bares no trabalho na livraria nas viagens
nos amigos nas praças na avenida na perfumaria.
teu cheiro nunca mais encontrei.

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Brainstormes mostram
várias portas de saída
ao meu cérebro derretido.

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Lembra daquela noite que dormimos juntos
e ouvimos estrondos que pareciam tiros
e nos abraçamos e quase morremos

de medo?
Eu lembro direto.
Agora engulo o choro e aguento.

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Abrir bem os olhos não modifica o que eu vejo
mas me modifica aos olhos de quem me vê.

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A cadeira verde e fria em que fizemos amor
seus metais que nos apoiaram
servem hoje para apoiar a minha roupa.
Você levou o calor e os cabides.

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O maravilhoso mundo das árvores que chovem
e da graça que é receber um pingo delas.
Elas são lentas, mas chovem sempre.
A gente também chove
mas só quando há muita emoção
e isso acontece cada vez menos.
Nosso problema não
é velocidade, é frequência.

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(Pensamentos depois da leitura de "Onde estivestes a noite", de Clarice Lispector)

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