7.4.13

Um brinde

Caro leitor, tenho uma novidade para dar-lhe: Nunca tive tantos copos. Talvez meus copos não façam nenhuma diferença transcendental na sua vida, não façam nenhum sentido mágico pra você ou nem te interessem, mas a minha descoberta desta noite me surpreendeu, e me deixou feliz ao tal ponto, que preciso compartilhar com meu Microsoft Word 2007 e com você.
Não, eu não do tipo sou materialista, que se vangloria da quantidade de objetos que compra, guarda e tem. Muito menos faço o gênero colecionista. Tanto que meus copos têm tamanhos e formas de forma totalmente aleatória. Tanto que nem sei exatamente quantos copos eu tenho. Mas a questão é que nunca tive tantos copos e explico porque esta constatação me parece de veras importante.
Talvez você não saiba, mas há exatos sete anos saí de casa. Em 2006, ingressei no curso de Letras, na USP e por isso, me mudei de Santos a São Paulo. Desde o dia que as aulas começaram até 6 de abril do mesmo ano, morei na casa da minha tia. Neste dia, que não coincidentemente, era aniversário da minha tia (e da irmã gêmea dela, a minha mãe), decidi que queria ir morar numa república e procurar um emprego para me sustentar.
Eleito isso, morei em várias casas/apartamentos/repúblicas nos anos seguintes. Com mais três pessoas, mais seis, mais duas, mais uma, mais quatro. Neste tempo, de zero copos passei a alguns, e de alguns a zero outra vez: meus pais me doaram uns, uns amigos me presentearam outros, cheguei a comprar uns outros. Mas, por alguma razão, eles se iam, se rompiam, se despedaçavam, e aqueles que eram de plástico, ficavam velhos, feios e com cheiro estranho depois de meses, e eram jogados fora.
Quando resolvi morar só com meu namorado - depois de dividir a casa com tanta gente amiga e nem tão amiga assim - e como manda a tradição da convivência, compramos juntos copos novos. Dez copos, iguais, tamanho tulipa, como aqueles de chopp, marca de hipermercado barato. 
Esses copos, assim como nós dois como casal, tiveram História: Brindaram várias festas, estavam presentes em dias ruins, como quando soubemos que ele tinha perdido o emprego, e em dias bons, quando depois de alguns meses, ele foi contratado por uma grande empresa... além de vitórias e derrotas do Brasil e da Argentina na Copa de 2010, e nos almoços e jantares cotidianos. Foram bons copos.
Meu namoro-casamento durou dois anos e três meses. E, no final dele, para a não surpresa minha, só haviam sobrado no armário dois copos. Sim, alguns haviam sido acidentalmente suicidados nesta trajetória. Culpa de mãos escorregadias, água ou sabão demais, e pura distração. Já outros foram provocadamente arremeçados, e não, não fui eu que os lancei à morte. Mas foi o assassinato dos copos, ação cometida com o intuito de descarregar más energias e finalizar discussões amorosas, um dos feios motivos de minha separação. Pois é, com o homicídio serial dos copos, meu amor também foi morrendo, na mesma progressão aritmética. Ele saiu da casa onde morávamos, levando os dois copos sobreviventes, mas me deixou outros seis, novos, para começar minha vida, pela primeira vez, morando sozinha.
Faz um ano e três meses que estou nesta situação: morando sozinha. Do estado anterior, além da mesma casa, mantive também alguns velhos costumes. Como o de almoçar pão de forma com maionese e milho, e jantar pão de forma com requeijão e geleia de goiaba nos dias e noites preguiçosos. Mas como um estado novo exige algumas mudanças estruturais, acabei criando também novos hábitos. Como o de guardar os copos de plástico de requeijão e os copos de vidro das geleias, depois, claro, de devidamente esvaziados e limpos.
Os copos de plástico (e suas tampas) serviram para fazer, finalmente, meu kit-tempero. Agora tenho orégano, manjericão, ervas finas, curry, canela, noz moscada e outros condimentos, cada um em seu copinho de plástico, transparente e com a tampa azul, designado por um adesivo com seu respectivo nome. Já os copos de vidro de geleia se uniram aos outros seis resistentes copos de vidro no armário, separados de suas tampas de metal, que foram lavadas e jogadas no lixo reciclável.
Hoje, após secar a louça do escorredor e guardar todos os copos no armário, me dei conta que já não tenho espaço para novos. Quer dizer, cheguei à capacidade máxima de armazenamento de copos. 
Isso significa que: 1. Terei que encontrar um novo fim à atividade de guardar copos, o que pode ser o começo de um novo hábito, como pintá-los e presenteá-los, ou doá-los a quem não tem ou perdeu os seus. 2. Estou mais atenta para não cometer erros do passado (como agarrar um copo com a mão frouxa na hora de lavar a louça e não namorar alguém que destrua as pequenas coisas). 3. Sou responsável e dona daquilo que conservo (sejam meus potes de requeijão ou manias tolas). 4. Valorizo aquilo que conquistei (desde um copo até meu amor próprio). 

Pode não ser muita coisa pra você, mas a partir de hoje, vou abrir meu armário da mesma maneira como me olho no espelho: sorrindo.

Ellen Maria

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